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17/05/05
Célula-Tronco deve evitar amputação

Equipe paulista que fez 1º implante no país contra trombose estima em 85% as chances de a circulação sanguínea voltar

A esperança brilhava no rosto do agente tributário Ramão Torres Martins, de 49 anos, ao deixar ontem o hospital do Instituto de Moléstias Cardiovasculares (IMC) de São José do Rio Preto, a 463 quilômetros a noroeste de São Paulo. Ele foi o primeiro paciente com trombose a receber um implante de células-tronco no país para evitar a amputação de um membro. Morador em Campo Grande (MS), Martins chegou quarta-feira no hospital sentindo fortes dores e desenganados pelos médicos. Ontem recebeu alta com 85% de chances de não ter a perna esquerda amputada. "Todas as indicações eram para amputação, uma vez que os recursos terapêuticos já tinham sido esgotados", conta o cirurgião José Dalmo Araújo, responsável pela operação. Segundo ele, de anteriografia confirmaram a obstrução acima do joelho e o não-funcionamento das artérias. "Decidimos então que não havia outra saída a não ser tentar o implante das células-tronco ou ele perderia parte da perna na altura do joelho". Na mesma quarta-feira, Martins foi anestesiado e os médicos retiraram 500 mililitros de sangue do seu osso ilíaco (na medula óssea da bacia) para processar 40 mililitros de células-tronco - ou um total de 3,6 bilhões de células-tronco - no laboratório de hematologia do hospital.O procedimento durou cerca de 6 horas. Somente depois disso, já de noite, é que teve início uma operação relativamente simples: a aplicação de células-tronco em 40 pontos diferentes do músculo da panturrilha esquerda. Mesmo assim um pouco antes, os médicos foram obrigados a amputar um dedo (outro já havia sido retirado anteriormente), que estava necrosado. A esperança dos médicos é de que as células formem novos vasos para facilitar a circulação normal da perna, evitando assim a amputação. "Hoje podemos dizer que o paciente evoluiu muito bem. Há dois dias ele não sente dor e há aspecto de cicatrização onde os dedos foram retirados. Antes não havia cicatrização alguma", diz Araújo. A expectativa explica ele, é de que em 30 dias saia um resultado definitivo confirmando a volta da circulação na perna e afastando o risco de amputação. "As chances de que isso aconteça são de 85%", afirma. "Mas somente novos exames e acompanhamentos nas próximas quatro semanas poderão confirmar essa expectativa". Martins terá de ficar ainda mais um mês em São José do Rio Preto para o tratamento, mas isso não incomoda. "O que vale é que cheguei aqui com mais de 90% de chances de ter a perna amputada e estou saindo com 85% de chances de não amputá-la", diz. "Temos esperança de que essa aplicação reverta o quadro", afirma Odalciza Martins, mulher do agente tributário. De acordo com Araújo, apesar de inédita no Brasil, este tipo de aplicação é feita com sucesso no exterior, especialmente no Japão e na China, e os resultados são positivos. Ele explica que há cerca de 30 pacientes com quadro de trombose no IMC com possibilidade de receber o mesmo tipo de aplicação, mas apenas cinco tem condições de pagar o custo da cirurgia, que ficou em R$ 9 mil, bancados por Martins. O SUS não cobre cirurgias desse tipo. Só para o processamento do sangue em células-tronco, o IMC teve uma despesa de R$ 4 mil. Além de Araújo, outros dez profissionais trabalharam na operação.

O Estado de São Paulo

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