O que plástico e a diabetes tipo 2 têm em comum? Muito mais coisas do que poderíamos imaginar. De acordo com um informe do Jornal da Associação Médica Norte-Americana (Jama, na sigla original em inglês), a substância bisfenol A (BPA), presentes na formação de todo o tipo de produtos plásticos de policarbonato ? que utilizamos regularmente ?, além de estar relacionada à diabetes, pode contribuir também para a ocorrência de doenças cardiovasculares e alterações hepáticas.
Segundo os autores do documento, mais de 90% da população norte-americana possui níveis consideráveis deste composto em seu organismo. Os especialistas alertam ainda para o fato de que a exposição supera a dose referencial de microgramas por quilo. Dentre as complicações apresentadas, destacam-se: alterações no metabolismo da glicose, dos lipídios e no estresse oxidativo.
Especialistas do "Península Medical School", no Reino Unido, analisaram a relação entre a concentração da substância na urina de 1.455 voluntários ? com idades entre 18 e 74 anos - e diversas doenças e anomalias metabólicas. A equipe liderada pelo Dr. David Melzer constatou que a concentração de BPA era maior em pessoas que sofriam de alguma patologia cardiovascular, diabetes tipo 2 ou alguma alteração nos níveis de três enzimas hepáticas. Através de uma pesquisa mais aprofundada, foi possível detectar que, nos pacientes que apresentavam uma presença maior de BPA, a ocorrência de problemas cardíacos era três vezes maior, enquanto a de diabetes era 2,4 maior. Para o estudo, os especialistas basearam-se nos dados recolhidos do informe nacional de 2003-2004 sobre saúde e nutrição nos Estados Unidos.
Um outro relatório afirma que o problema com o bisfenol A é a dose diária aceitável para uma pessoa, uma vez que a quantidade continua sendo baseada em um conceito do século 17 e em estudos realizados na década de 80 com técnicas defasadas. O próximo passo será analisar os níveis de BPA em crianças, adolescentes, mulheres grávidas e seus fetos. Os cientistas acreditam que esses segmentos da sociedade podem ser mais suscetíveis aos possíveis efeitos colaterais da substância.
De acordo com o editorial, "o aumento do uso de BPA durante os últimos 30 anos coincide com o crescimento significativo da incidência de obesidade e diabetes infantil". No entanto, o texto reitera que, devido à grande quantidade de BPA produzida anualmente e ao número elevado de pessoas expostas a ele, seria muito mais fácil eliminá-la dos recipientes de comida e bebida do que encontrar soluções para a contaminação mundial com essa substância.