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22/11/2010
Diabético pode consumir bebidas alcoólicas ?

Nutrição & Diabetes
15/11/2010 - IDMED

Escrito por Dra. Suzana Maria de Souza Vieira

Um diabético pode consumir bebidas alcoólicas?

Não há contraindicação para a ingestão de bebidas alcoólicas pelos portadores de diabetes, desde que observados limites de quantidade e presença de doenças ou condições que podem ser agravadas com sua ingesta. O consumo de álcool deve ser feito de forma responsável.



Que bebidas alcoólicas o diabético pode tomar? Destiladas, fermentadas, adocicadas?

A quantidade de álcool deve ser equivalente nas bebidas destiladas ou fermentadas, não ultrapassando as quantidades recomendadas. Deve-se evitar bebidas açucaradas, as com leite condensado, com suco de frutas. Preferir o uso de adoçantes e frutas de baixa quantidade de carboidrato, tais como maracujá, limão.



Qual quantidade de ingestão de álcool é tolerável para alguém que tem diabetes?

Homens devem consumir no máximo duas doses e mulheres uma dose de bebida ao dia. Uma dose de bebida contém 10 a 15g de álcool, o que equivale a 360ml de cerveja, 45ml de bebida destilada, 150ml de vinho.



Quando bebemos, onde o álcool é metabolizado? No caso do diabético, como o processo funciona?

O álcool é absorvido no estômago e intestino sem ser metabolizado. É metabolizado na sua maior parte no fígado e 10% do álcool é eliminado pelo organismo sem ser metabolizado. Não há diferença na metabolização do álcool pelos diabéticos e não diabéticos no fígado.



Beber bebida alcoólica não faz o diabético baixar o açúcar no sangue?

O álcool aumenta o risco de hipoglicemia (queda do açúcar) relacionada ao jejum nos indivíduos não diabéticos. Nos portadores de diabetes que utilizam insulina ou medicamentos que estimulam a liberação de insulina pelo pâncreas, esse risco é potencializado.



Por quê? Como evitar que isso ocorra?

O álcool inibe a gliconeogênese, isto é, a formação de glicose a partir de outros compostos como gordura e proteína nos períodos de jejum prolongado para suprir a necessidade do organismo, já que o carboidrato é o seu principal combustível. Para evitar a hipoglicemia, devem-se observar alguns cuidados:

• Nunca ingerir álcool quando a glicose no sangue está baixa (hipoglicemia);

• Ingerir álcool com estômago vazio, já que a presença de alimentos no estômago retarda a absorção do álcool;

• Comer pequenas porções de carboidratos enquanto se ingere bebidas alcoólicas e maiores quantidades quando estiver fisicamente ativo;

• Não esquecer de hidratar-se adequadamente, pois o álcool produz desidratação, que pode ser agravada se o açúcar no sangue estiver alto. Preferir bebidas isentas de calorias;

• Avaliar a glicemia antes, durante e após o consumo de bebidas alcoólicas e antes de dormir, e corrigir a glicemia de acordo com a orientação médica. Em geral, não dormir com glicemia menor que 100mg/dl.



Não faz mal misturar bebida alcoólica com medicamentos para controle do diabetes?

Principalmente quando os portadores de diabetes fazem uso de insulina e medicamentos que estimulam a sua secreção pelo pâncreas, já há maior risco de hipoglicemia. O abuso de bebidas alcoólicas deve ser desencorajado, porém, é possivelmente mais danoso interromper deliberadamente o uso das medicações em situações de consumo de álcool. Portadores de diabetes que usam insulina conforme a contagem de carboidrato não devem considerar a quantidade de carboidrato contida na bebida alcoólica, exceto naquelas muito ricas nesse nutriente. A conduta individualizada nesses casos deve ser discutida com a equipe que acompanha o portador de diabetes.



O que acontece se o diabético ficar muito alcoolizado? A insulina não pode ser ministrada? O que fazer para que ele se recupere? Ele pode morrer devido a isso?

Caso haja comprometimento do nível de consciência, deve-se:

• Medir a glicose capilar (ponta de dedo) para verificar se há hipoglicemia, já que os sintomas de hipoglicemia são semelhantes aos da embriaguez;

• Em casos de hiperglicemia o uso da insulina deve ser judicioso, levando-se em consideração o alto risco de hipoglicemia até 12h após a ingestão de bebidas alcoólicas;

• Se houver hipoglicemia, há risco de morte. Deve-se oferecer 15g de carboidrato de rápida absorção por via oral e medir a glicemia após 10 a 15 minutos para verificar se houve aumento dos níveis de glicose no sangue. Nos casos de coma ou impossibilidade de ingestão por via oral (vômitos), não se deve administrar líquidos por essa via, assim torna-se necessária a administração de glicose diretamente na veia no pronto-socorro, além de hidratação adequada e outras medidas para intoxicação por álcool. A glicemia deve ser medida a intervalos regulares, já que pode haver hipoglicemia tardia. O glucagon, medicação usada para aumentar a glicose no sangue, não funciona nesses casos;

• Orientar o portador de diabetes para que leve consigo o “cartão do diabético”, com informações de como agir em casos de hipoglicemia, além de glicose em gel ou outro tipo de fonte de açúcar de rápida absorção.



Beber pode prejudicar doenças secundárias causadas pelo diabetes?

O álcool pode aumentar os níveis pressóricos, o que contribui para complicações diabéticas. É diretamente tóxico para os nervos, podendo piorar quadros de neuropatia diabética.



Que tipos de diabéticos jamais deveriam beber álcool?

Nas seguintes situações os portadores de diabetes não devem consumir álcool:

• Antecedente de derrame cerebral hemorrágico;

• Doença no fígado, pâncreas;

• Transtornos psiquiátricos;

• Antecedente pessoal ou familiar de abuso de álcool;

• Problemas devido ao aumento de triglicérides, como, por exemplo, pancreatite;

• Gravidez;

• Pessoas que operam máquinas ou equipamentos perigosos;

• Controle do diabetes muito instável, que têm a hipoglicemia como obstáculo para seu controle;

• Presença de complicações crônicas secundárias ao diabetes, principalmente complicações neurológicas;

• Condições particulares determinadas pela equipe que acompanha o portador de diabetes.

O uso deve ser limitado nos casos de gastrite ativa, inflamação no esôfago, lesões pré-cancerosas no trato digestório, história familiar de câncer de mama.



Dra. Suzana Maria de Souza Vieira é Doutora em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) na área de concentração de Endocrinologia e Metabologia, atuando em pesquisas clínicas e laboratoriais sobre Diabetes. Possui Graduação em Medicina pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE (1998); Título de Especialista em Clínica Médica - SBCM (2001) e Título de Especialista em Endocrinologia e Metabologia - SBEM (2003). CRM: 95.211.




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