WASHINGTON (Reuters) - Comer demais deixa o cérebro em parafuso, desencadeando uma série de danos que podem levar à diabetes, a distúrbios cardíacos e outras doenças, disseram pesquisadores dos EUA na quinta-feira.
O excesso de calorias parece ativar um acesso habitualmente adormecido do sistema imunológico, cujas células então atacam e destroem invasores inexistentes, segundo Dongsheng Cai e seus colegas da Universidade de Wisconsin-Madison, em artigo na revista Cell.
Isso pode explicar por que a obesidade provoca tantas doenças e ajudar a preveni-la. Estima-se que em 2007 havia pelo menos 1,8 bilhão de pessoas acima do peso no mundo. Medicamentos existentes contra a obesidade têm resultados limitados e fortes efeitos colaterais.
Em ratos, a equipe de Cai tentou explicar estudos que vincularam a obesidade a inflamações crônicas no corpo todo. Esta inflamação está presente em diversas doenças associadas à obesidade, como os problemas cardíacos e a diabete.
Eles obtiveram um composto conhecido como IKKbeta/NK-kappaB. Células imunológicas, como os macrófagos e leucócitos, usam essa substância, mas os cientistas a localizaram no hipotálamo, uma parte do cérebro que está associada ao metabolismo.
O hipotálamo é a sede da regulação energética... escreveram eles no artigo.
Normalmente, mesmo em alta concentração no hipotálamo, o IKKbeta/NK-kappaB, permanecia inativo, o que mudava quando os ratos recebiam uma dieta rica em gorduras. Nessas situações, o organismo ignorava os sinais da leptina, um hormônio ligado à regulação do apetite, e da insulina, que ajuda a transformar o alimento em energia.
Estimular o IKKbeta/NK-kappaB fez os ratos comerem mais, e suprimi-lo fez os ratos comerem menos. Cai acredita ter encontrado um interruptor para doenças provocadas pelo excesso de alimentação.
O IKKb/NF-kB do hipotálamo pode sustentar toda a família de doenças modernas induzidas pela supernutrição e a obesidade... escreveu o grupo.
Cai não sabe por que esse composto estaria no cérebro e no sistema imunológico, mas suspeita que seja resultado de uma evolução muito antiga em animais primitivos, desprovidos do sistema imunológico sofisticado dos animais modernos, como ratos e humanos.
Presumivelmente, ele teve algum papel em guiar a defesa imunológica.. disse Cai por telefone... Na sociedade de hoje em dia, este acesso está mobilizado por um desafio ambiental diferente -- a supernutrição.
Desativando um gene por meio da engenharia genética, os ratos comiam normalmente, sem se tornarem obesos. Isso é impossível em pessoas, mas Cai acha possível que surja uma droga ou mesmo uma terapia genética (quando um vírus ou outro vetor leva um DNA corretor para o organismo, um tipo de tratamento ainda muito experimental).