19/05/2008Nova droga diabetesNova droga é mais eficaz no controle da diabete
Para evitar hipoglicemia, remédio só age com nível elevado de açúcar
Emilio Sant’Anna
Uma nova geração de medicamentos contra a diabete promete mudar a vida dos pacientes. Chamados de remédios inteligentes, têm ação seletiva sobre os mecanismos de regulação de insulina e níveis de glicose no sangue, evitando a hipoglicemia. Eles só funcionam quando a pessoa se alimenta e o açúcar no sangue está elevado. Quando a glicemia volta a níveis normais, o medicamento pára de agir, tornando mais baixo o risco da hipoglicemia.
Hoje, grande parte dos remédios causa a queda excessiva dos níveis de açúcar no sangue - porque funcionam quando os diabéticos precisam, mas também quando não há necessidade. Os sintomas podem ir da fraqueza, tremores, suor frio, tontura, dificuldade de concentração e convulsões, podendo, até mesmo, levar ao coma.
A nova classe de medicamentos age na produção de hormônios chamados incretinas, secretados no intestino cada vez que a pessoa se alimenta. Do intestino, as incretinas vão para o pâncreas pela corrente sanguínea. Ali, elas se instalam nas células beta e ajudam na fabricação da insulina.
Em pessoas normais, o nível de incretina no intestino aumenta cerca de 60% cada vez que ela se alimenta. No diabético, o aumento é de apenas 6%. A diferença dos medicamentos inteligentes é o alvo de sua ação. A maior parte os medicamentos para diabete age de duas maneiras: estimulando diretamente o pâncreas a fabricar insulina ou melhorando a ação da insulina, ao diminuir a resistência do corpo à sua ação.
Dois desses medicamentos foram aprovados em 2007 no Brasil. O Januvia (sitagliptina), da Merck Sharp Dhome, e o Galvus (vildagliptina), da Novartis. Os dois são inibidores da DPP 4, enzima que “destrói” o hormônio GLP1 - o principal das incretinas. A forma de ação desses medicamentos é considerada pelos especialistas a nova fronteira no tratamento da diabete, tanto que hoje outras 12 gliptinas (da mesma classe) estão em desenvolvimento. “A tendência é usar esses medicamentos em associação com outras drogas”, diz o chefe do departamento de Endocrinologia do Hospital Heliópolis e coordenador do Núcleo de Terapia Celular e Molecular do Instituto de Química da Universidade de São Paulo, Freddy Goldberg Eliaschewitz.
LAGARTO
O mais recente dos medicamentos inteligentes para o tratamento da diabete a chegar ao mercado brasileiro é o Byetta (nome comercial da exenatida), do laboratório Eli Lilly, aprovado no último mês pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Extraído da saliva do maior lagarto dos desertos dos Estados Unidos, o Monstro de Gila, o remédio é um hormônio sintético que substitui a ação do GLP1.
Outra vantagem é a ajuda na perda de peso. “Esse é um ganho importante, pois cerca de 90% dos pacientes com diabete tipo 2 são obesos”, explica o endocrinologista João Eduardo Salles, professor da Faculdade de Medicina da Santa Casa.
A indicação é para pacientes que ainda não precisam das aplicações diárias de insulina e não conseguiram bons resultados com outras drogas.
O engenheiro civil Marco Antonio Colombini, de 64 anos, não esperou o remédio ser aprovado no Brasil para utilizá-lo. Há um ano e meio usando o Byetta, conseguiu melhor desempenho na regulação do nível de glicemia em seu sangue.
O preço, no entanto, não lhe agrada nem um pouco. “Antes de ser aprovado pela Anvisa, importava o remédio e pagava R$ 678. Agora estou pagando R$ 371, mas ainda é muito”, reclama. “Só estou vivo porque tenho dinheiro para pagar.”
O QUE É A DOENÇA
Causas: Pode ser causada pela falha na produção de insulina no pâncreas ou pela falha na ação do hormônio
Sintomas: Sede e vontade de urinar excessivas e perda de peso são sinais de alerta para diabete
Tratamento: Controle do nível de glicose, estilo de vida saudável e controle da pressão arterial
Complicações: Trombose e amputações são comuns em pacientes que não fazem controle adequado
O Estado de São Paulo