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16/05/2011
Doença renal nos diabéticos

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A doença renal do diabetes: sua prevenção e tratamento
15/5/2011 - Fonte: Citen

Para os pacientes diabéticos com doença renal associada, a mudança básica no plano nutricional fica por conta da redução da porcentagem de proteínas utilizadas na dieta

Os números são impressionantes. São quase 200 milhões de diabéticos em todo o mundo e estima-se que de 30% a 40% deles tenham algum comprometimento variável da função dos rins. Daí pode-se imaginar o impacto dessa complicação diabética, cuja evolução natural pode ser a falência dos rins, com a necessidade de diálise permanente ou transplante renal. "Além disso, o ônus da doença renal não para por aí, pois a sua ocorrência aumenta em duas vezes as chances do paciente diabético sofrer um infarto, além dos riscos já incorporados à sua vida pelo fato de ser diabético", alerta a endocrinologista Ellen Simone Paiva, diretora do Citen, Centro Integrado de Terapia Nutricional.

Esse contexto de ameaça à saúde justifica a importância de que todo paciente diabético seja rastreado, no mínimo anualmente, para a possibilidade de apresentar perda urinária de albumina, uma vez que essa alteração geralmente precede a perda progressiva da capacidade renal de filtrar o sangue, eliminando as escórias nitrogenadas e preservando as proteínas. "Antigamente, este diagnóstico exigia a coleta de urina durante 24 horas. Hoje, já conseguimos medir a alteração renal em uma amostra simples de urina e quantificamos a perda de albumina através de um cálculo matemático", explica a médica, Mestre em Nutrição e Diabetes pela USP.

A evolução natural da perda urinária de albumina é a redução progressiva das unidades de filtração renal com falência do órgão. Isso ocorre em vários estágios de gravidade, definidos esquematicamente de 1 a 5, de acordo com o grau de redução da função renal, onde o estágio número 1 define os pacientes com lesão renal inicial e o estágio 5 define os pacientes com falência renal definitiva, em vigência de diálise e aguardando a possibilidade de um transplante renal. "A importância em se detectar a perda de proteínas pela urina, principalmente em seus estágios iniciais, é a possibilidade de reversão deste quadro, evitando assim a falência renal", diz Ellen Paiva.

Melhor que isso, somente a prevenção da nefropatia diabética, como é chamada a lesão renal relacionada à doença. "A prevenção é possível através de um controle glicêmico ideal, principalmente no caso do diabetes tipo 1 ou insulino-dependente e com níveis de pressão arterial normal. Em se tratando de diabetes tipo 2, a associação com hipertensão arterial e dislipidemia é muito freqüente e representa condições agravantes que dificultam o tratamento e a prevenção da falência renal", informa a médica. Nesses casos, o tratamento deve englobar também essas comorbidades, ou seja, normalizar a pressão arterial e corrigir a dislipidemia.

Medidas para prevenção e tratamento da nefropatia diabética:

1 - Manter o controle glicêmico adequado, através da monitorização das glicemias diárias e da hemoglobina glicosilada (HbA1c) a cada 3-6 meses;

2 - Ajustar a dose de insulina e dos medicamentos orais, uma vez que à medida que decai a taxa de filtração renal, prolonga-se o efeito hipoglicemiante desses medicamentos, conferindo um aumento no risco de hipoglicemias em até cinco vezes, em relação ao paciente sem doença renal;

3 - Alguns medicamentos devem até ser interrompidos à medida em que progride a perda da função renal, como é o caso da metformina e acarbose;

4 - Tratar a hipertensão arterial é tão importante quanto controlar as glicemias, uma vez que, por si só, a hipertensão arterial também causa lesão renal tão frequentemente quanto o diabetes. Em relação à proteção renal, alguns medicamentos utilizados para o tratamento da hipertensão arterial saem na frente, uma vez que já demonstram uma efetiva redução da perda de proteínas pelo rim;

5 - Tratar a dislipidemia rigorosamente reduz o alto risco de doença cardiovascular associada ao diabético com nefropatia. Isso significa manter o LDL colesterol abaixo de 100mg/dL e o triglicéride abaixo de 130mg/dL. Nos casos de insuficiência renal, entretanto, algumas das estatinas, drogas normalmente utilizadas no tratamento do colesterol, devem ter suas dosagens reduzidas;

6 - Cuidados especiais devem ser voltados aos ossos dos pacientes com doença renal crônica, uma vez que eles têm alta prevalência de osteoporose, devendo receber suplementação de vitamina D e cálcio para prevenir a fragilidade óssea e reduzir o risco de fraturas;

7 - Monitorar e tratar os níveis críticos de anemia, que muitas vezes, ocorrem na evolução da doença renal;

8 - Modificações dietéticas podem evitar a progressão da doença renal e devem ser implementadas à medida em que a falência renal evolui. Nesse quesito é fundamental a participação da nutricionista, capaz de montar um plano nutricional individualizado e adequado para cada fase da doença renal, possibilitando a escolha dos nutrientes para alcançar uma dieta possível de ser seguida.

A nutrição do paciente diabético com doença renal crônica

Para os pacientes diabéticos com doença renal associada, a mudança básica no plano nutricional fica por conta da redução da porcentagem de proteínas utilizadas na dieta. Enquanto que para os pacientes diabéticos, com função renal normal, as recomendações de proteínas são iguais aquelas da população em geral, em torno de 1,0 a 1,2g/kg/dia, para os diabéticos com doença renal as recomendações são em torno de 0,8g/kg/dia. "A escolha protéica para o cardápio deve privilegiar as proteínas tidas como de alto valor biológico como as da carne, frango, peixe, ovos, leite, queijo e soja", informa a endocrinologista Ellen Paiva.

Muitos estudos científicos têm mostrado uma redução da perda urinária de albumina nos pacientes com doença renal crônica tratados com uma dieta com menor quantidade de proteínas, principalmente nos diabéticos tipo 1. Nos diabéticos tipo 2, essa melhora requer ainda a normalização da pressão arterial, cuidados com a obesidade, o sobrepeso e o tratamento da dislipidemia.

"Reduzir proteínas não é fácil para os brasileiros, que consomem muito mais do que os 1,2g/kg/dia recomendados, principalmente quando essa redução inclui a proteína da carne do churrasco e de todas as carnes vermelhas, a proteína do feijão, do frango, do peixe e dos laticínios em geral, incluindo o leite do café da manhã e o queijo da pizza", observa a diretora do Citen. Para se ter uma idéia dessa redução, um paciente adulto com peso ideal ou sobrepeso, pode comer em proteínas, por dia, apenas o equivalente a um bife de 50g de carne, uma concha pequena de feijão e 150ml de leite.

"Apesar da dificuldade de adaptar o cardápio, além daquelas impostas pelo diabetes, o efeito protetor renal é admirável, com parada na progressão da lesão renal, traduzida por estabilidade da proteinúria e pela redução de alterações leves já instaladas. Vale a pena investir num plano dietético que minimize as lesões renais e ofereça mais qualidade de vida ao paciente diabético", conclui a endocrinologista Ellen Paiva.

Dra. Ellen Simone Paiva
Médica Endocrinologista e Nutróloga
Diretora Clínica do CITEN - Centro Integrado de Terapia Nutricional.


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