Implante combate doenças que podem levar à perda da visão
Cecília Dionizio
Guilherme Baffi
Oftalmologista Cláudio Dalloul faz avaliação de paciente para uso do medicamento ozurdex Um novo tratamento para combater doenças inflamatórias da visão, da retina e vítreo, como uveítes, acaba de ser aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para ser aplicado nos pacientes do Brasil. O medicamento, que é implantado na cavidade vítrea, até então só era disponível na Europa e nos Estados Unidos. Trata-se do ozurdex, cujo princípio ativo é a dexametazona, um corticoide cujo sistema de liberação prolongada dentro do olho age a longo prazo no controle da doença.
Segundo o oftalmologista Cláudio Dalloul, de Rio Preto, que já faz uso do tratamento em seus pacientes, o procedimento consiste na introdução de um polímero com o medicamento na cavidade vítrea. “Ocorre então uma liberação diária desse medicamento em concentração terapêutica por até seis meses. A droga bloqueia a produção de substâncias envolvidas no inchaço e na inflamação da retina”, explica.
O paciente recebe uma anestesia local, e o procedimento é realizado em minutos, com a pessoa acordada. Algumas aplicações adicionais podem ser indicadas, de acordo com a resposta de cada caso. Como o implante é biodegradável, dissolve-se dentro do olho e é absorvido pelo organismo, sem a necessidade de ser retirado.
De acordo com dados da Federação Internacional de Diabetes, em 2030, serão 12,7 milhões de brasileiros atingidos pelo diabetes, que é classificado entre as principais causas de cegueira, englobando os casos de edema macular diabético. Mas além do edema relacionado ao diabetes, ainda existem outras situações que poderão ser tratadas com o implante, como para o controle da inflamação intraocular após cirurgia de facoemulsificação e implante de lentes intraoculares. O único problema é que, embora aprovado pela Anvisa, o medicamento ainda não conta com a cobertura do Sistema Único de Saúde (SUS), tampouco a de convênios. Enquanto não era liberado no Brasil, custava em média cerca de R$ 6,2 mil.
Pierre Duarte
Rio-pretense Rubens Siqueira participa do desenvolvimento de medicamento similar com tecnologia brasileira Produto nacional já está a caminho
A boa notícia é que um sistema muito parecido está sendo desenvolvido pelo médico rio-pretense Rubens Siqueira, em parceria com a Universidade de São Paulo, Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (HCFMRP) e Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais, sob a coordenação do pesquisador Armando da Silva Cunha, professor na UFMG. O medicamento poderá ser disponibilizado para uso no País, com um custo mais acessível.
Rubens Siqueira, especialista em retina e vítreo, tem certeza que o produto nacional comparado com o recém aprovado terá custo mais baixo, além de maior facilidade de implantação no olho, uma vez que o diâmetro é menor que o produto até então importado. Siqueira explica que já estão trabalhando neste projeto há 10 anos, e até agora já resultou em nove teses de doutorado. Atualmente, é testado em pacientes (estudo clínico) e a grande vantagem é o fato do implante ser menor que o ozurdex, o que facilita a implantação dentro do olho.
Tratamento facilita adesão
Como até agora os tratamentos para essas doenças implicavam em uso contínuo de colírios, era comum que o paciente nem sempre se lembrasse de fazer o uso no horário determinado. Com o implante, a adesão será maior, com resultados mais satisfatórios. O oftalmologista Rubens Siqueira explica que estes implantes são indicados atualmente para doenças vasculares da retina e uveíte (inflamação intraocular).
"A vantagem é que o paciente não necessita de tomar medicamento via oral ou colírios, pois o implante está dentro do olho, trabalhando sozinho e liberando o medicamento na quantidade correta. Oferece, portanto, muito mais comodidade ao paciente e menos efeitos colaterais sistêmicos", explica o pesquisador.
Segundo Cláudio Dalloul, essas doenças são mais comuns em pacientes acima de 50 anos, mas podem acometer jovens também. "As causas mais comuns estão relacionadas à pressão arterial alta, diabetes, inflamações oculares, entre outras. O diagnóstico deve ser feito clinicamente e com exames complementares como a tomografia (OCT), angiografia e retinografia colorida", alerta.
Doenças Que Podem Ser Tratadas
:: Oclusão venosa - Ocorre devido à obstrução de uma veia central da retina ou de suas ramificações, podendo resultar em edema (inchaço da retina), isquemia (falta de oxigenação), neovascularização, hemorragias, glaucoma secundário e até descolamento da retina. Os pacientes mais propensos a desenvolver esta doença são aqueles que sofrem com hipertensão arterial, diabetes e glaucoma, entre outras doenças cardiovasculares
:: Edema macular diabético - Trata-se de uma doença provocada pelo excesso prolongado de açúcar no sangue e que atinge os vasos sanguíneos da retina. Nos olhos, os vasos ficam mais frágeis e permeáveis, deixando escapar fluidos. Estas substâncias se acumulam na região da mácula, estrutura responsável pela nitidez do que vemos. O resultado é o inchaço desta área, que ocasiona visão borrada ou embaçada
Fonte: Cláudio Dalloul, especialista em retina e vítreo, de Rio Preto
Como Age
O ozurdex é um sistema de liberação prolongada de medicamento dentro do olho. Apresenta o tamanho aproximado da ponta de um lápis e é injetado dentro do olho pelo oftalmologista por meio de um aplicador especial. Este pequeno implante dentro do olho começa a liberar continuamente o medicamento (no caso a dexametasona, que é um corticoide) durante 4 a 6 meses. Esta é a grande vantagem: efeito mais prolongado e menor necessidade de injeções frequentes.
Outro medicamento na linha de injetáveis é o Eylea (aflibercept), que faz parte de uma nova geração de medicamento antiangiogênico para tratamento da degeneração macular relacionada com a idade e retinopatia diabética. E ainda nesta classe estão o Avastin ((bevacizumab) e o Lucentis (ranibizumabe). A vantagem que o Eylea apresenta com relação aos outros é uma maior duração do efeito (2 meses) comparado com Avastin e Lucentis, cuja duração em média é de um mês, o que reduz o número de injeções
Fonte: Rubens Siqueira, especialista em retina e vítreo, de Rio Preto