OMS recomenda exercício e controle da diabete e pressão para reduzir risco de demência. Em guia publicado organização define diretrizes para evitar ou retardar o aparecimento ou a progressão da doença, que atinge 50 milhões de pessoas no mundo;
Seguir uma rotina de exercícios físicos e manter a pressão arterial e a diabete sob controle são tão importantes na prevenção da demência quanto atividades intelectuais. É o que diz um guia da Organização Mundial da Saúde (OMS) lançado nesta terça-feira, 13, com diretrizes para reduzir o risco de declínio cognitivo e demência.
Elaborado por um grupo de especialistas de todo o mundo com base na revisão de estudos sobre o tema, o documento mostra que diminuir os fatores de risco associados a doenças cardiovasculares, como obesidade, sedentarismo e tabagismo, ajudam também a prevenir a ocorrência de demência ou pelo menos retardar o aparecimento do problema.
Entre as principais recomendações está a prática frequente de exercícios aeróbicos e de resistência e o consumo de alimentos saudáveis. Uma das dietas citadas no guia como exemplar é a mediterrânea, que privilegia produtos frescos e naturais, como frutas, legumes, azeite e cereais.
Por outro lado, o guia alerta que não há evidências científicas de que suplementos de vitamina B e E e de gorduras poli-insaturadas, como o ômega 3, diminua o risco de demência.
Estudo revela que 35% dos casos de demência são evitáveis
Segundo Cleusa Ferri, professora do programa de pós-graduação do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e única brasileira a integrar o grupo da OMS que elaborou o guia, doenças como obesidade, hipertensão e diabete e o consumo de tabaco e álcool levam a processos inflamatórios que afetam o cérebro, diminuindo a oxigenação no órgão e aumentando o risco de demência.
Estudo realizado pela pesquisadora brasileira em parceria com cientistas de outros países e publicado neste ano na revista científica Journal of Alzheimer's Disease mostrou que, ao reduzir em 20% a prevalência de sete fatores de risco (baixa escolaridade, sedentarismo, hipertensão na meia-idade, obesidade na meia-idade, depressão, tabagismo e diabete) na população, seria possível diminuir em 16% a prevalência de demência no Brasil até 2050.
“No Brasil, avançamos bastante nos últimos anos na redução do tabagismo, mas na questão da atividade física e nutrição temos muito o que fazer ainda. Seria importante oferecer mais espaços para a prática de exercícios para a população. Na questão nutricional, a indústria da alimentação e de bebidas ainda precisa sofrer intervenções mais rígidas”, defende a especialista. Ela criticou, por exemplo, a veiculação de propagandas de bebidas alcoólicas na TV aberta.
A OMS calcula que 50 milhões de pessoas no mundo vivam com demência atualmente, dos quais 60% estão em países de baixa ou média renda. Com o rápido envelhecimento da população, a estimativa é de que esse número atinja os 82 milhões em 2030 e 152 milhões em 2050.
Foi por causa do alto impacto da doença para o paciente e para seus familiares que a OMS elaborou o guia com recomendações de intervenções que adultos podem fazer para diminuir o risco de demência em idades mais avançadas.
“Demência é uma das principais causas de incapacidade e dependência entre os idosos e pode devastar a vida dos indivíduos afetados, seus cuidadores e suas famílias. Além disso, a doença traz um pesado ônus econômico às sociedades, com estimativa de que, até 2030, os custos com atendimento às pessoas com demência aumentem para US$ 2 trilhões por ano”, disse a organização no documento. “Embora não haja tratamento curativo para a demência, o manejo proativo de fatores de risco modificáveis pode retardar o aparecimento ou a progressão da doença”, destacou o órgão.
fonte: https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,oms-recomenda-exercicio-e-controle-da-diabete-e-pressao-para-reduzir-risco-de-demencia,70002827770
Demência: anticolinérgico aumenta o risco
Estudo mostra que alguns medicamentos podem aumentar o risco de demência. Nova pesquisa revela que uma classe de remédios utilizada contra depressão e Parkinson poderia estar associada à doença.
O anticolinérgico é recomendado para uma variedade de problemas de saúde que vão desde dor muscular até tratamento do Parkinson.
Todo medicamento apresenta efeitos colaterais, alguns mais leves, como sonolência, e outros mais preocupantes, como amnésia temporária. Agora, pesquisadores sugerem que alguns medicamentos podem aumentar o risco de desenvolver demência.
Esse seria o caso, segundo a pesquisa, das medicações da classe anticolinérgica, comumente prescritas para tratar problemas como depressão, Parkinson, epilepsia e psicose. O estudo, publicado recentemente no JAMA Internal Medicine, sugere que esses medicamentos podem aumentar o risco de demência em 49%.
Vale lembrar que os resultados encontrados no estudo apresentam uma correlação e não uma conexão direta entre causa e efeito. Ou seja, não é possível afirmar com absoluta certeza se, de fato, os anticolinérgicos causam demência.
Os anticolinérgicos são compostos que bloqueiam a ação da acetilcolina — um mensageiro químico usado pelo cérebro para controlar os impulsos nervosos dos neurônios que atuam nas células musculares. O remédio é recomendado para uma variedade de doenças que vão desde dor muscular até tratamento do Parkinson.
De acordo com especialistas, alguns efeitos colaterais dessa medicação incluem confusão e problemas de pensamento e memória. “Os médicos devem ter cuidado ao prescrever certos medicamentos que tenham propriedades anticolinérgicas”, alertou Tom Dening, principal autor da pesquisa, à BBC. Apesar disso, o pesquisador recomenda que nenhum paciente que esteja atualmente sob medicamentos da classe dos anticolinérgicos pare de tomá-los sem antes conversar com um médico.
Além disso, a equipe destacou que existe a possibilidade de que os pacientes já tenham manifestados sinais precoces de demência que foram confundidos com outros problemas de saúde e por isso tenham recebido esse tipo de medicamento. “Algumas doenças, como depressão e problemas de sono, por exemplo, são sinais precoces de demência”, explicou a cardiologista Tara Narula à rede americana CBS.
O estudo
Para chegar a essa conclusão, a equipe da Universidade de Nottingham, na Inglaterra, analisou 58.000 pacientes diagnosticados com demência e 225.000 sem a doença para fins de comparação. Durante o estudo, os cientistas avaliaram o histórico de uso de medicamentos dos participantes nos vinte anos anteriores à investigação.
A análise revelou uma forte ligação entre o uso de anticolinérgicos e o risco de demência em indivíduos acima dos 55 anos. No entanto, apenas algumas medicações específicas produziram esse efeito negativo: antidepressivos e antipsicóticos, além de remédios para epilepsia, incontinência urinária e Parkinson.
A equipe não identificou o risco em medicamentos para asma, problemas gastrointestinais e arritmia cardíaca, nem em relaxantes musculares — opções que também utilizam anticolinérgicos.
Recomendações
Diante dos resultados, alguns especialistas pedem cautela no uso desses remédios, especialmente entre a população mais idosa. Segundo Tara, indivíduos mais velhos estão mais suscetíveis a efeitos colaterais desse tipo uma vez que apresentam uma barreira hematoencefálica mais permeável. Ou seja, a estrutura que protege o cérebro de substâncias químicas presentes no sangue não é mais tão forte.
Além disso, pode haver um efeito cumulativo, já que os idosos costumam tomar uma série de medicamentos para controlar os problemas de saúde. “Por causa desses riscos, os pacientes com demência não deveriam estar tomando esses remédios”, ressaltou a cardiologista.
Com bases nas novas evidências, os pesquisadores ainda sugerem que sempre que possível os médicos considerem a possibilidade de prescrever tratamentos alternativos para cuidar dos pacientes, especialmente aqueles que já estão propensos a desenvolver demência. “Os anticolinérgicos podem ter efeitos benéficos que os médicos precisam pesar cuidadosamente contra quaisquer possíveis efeitos colaterais”, concluiu Jana Voigt, da Alzheimer’s Research UK, no Reino Unido, à BBC.
https://veja.abril.com.br/saude/estudo-indica-que-alguns-medicamentos-podem-aumentar-o-risco-de-demencia/