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20/05/05
Coréia faz 11 clones para estudar doenças

Grupo que fez primeira cópia genética de ser humano da o primeiro passo para aplicação terapêutica da célula

Os mesmos cientistas sul-coreanos que surpreenderam o mundo no ano passado ao anunciar a primeira clonagem de um embrião humano acabam de dar o passo seguinte: com a mesma técnica, criaram onze linhagens de células-tronco embrionárias. Trata-se da primeira aplicação pratica da clonagem humana, no desenvolvimento da chamada clonagem terapêutica, que poderia criar tecidos extras sem risco de rejeição. Woo Suk Hwang, pesquisador da Universidade Nacional de Seul que comandou o trabalho, disse que se tratava "de um passo gigantesco" numa teleconferência promovida pela revista "Science". O periódico publica hoje os resultados na sua edição eletrônica (www.sciencexpress.org). "No ano passado, foram necessários 252 óvulos para conseguir uma única linhagem. Essa eficiência foi melhorada em dez vezes", destacou Gerald Schatten, pesquisador da Universidade de Pittsburg (Estados Unidos) e único não-coreano do grupo. A técnica a rigor, é a mesma que criou todos os clones de mamífero até hoje, desde a lendária ovelha Dolly: células das pessoas clonadas serviriam como doadoras do núcleo, a estrutura que contém o DNA. Os núcleos foram fundidos a óvulos dos quais essa estrutura tinha sido extraída, o que desencadeou o desenvolvimento de embriões. As semelhanças, no entanto, para aí. As células coreanas foram abrigadas por uma "cama" nutritiva formada por células dos próprios doadores - e não de camundongos, como é praxe. Isso significa que elas não estão contaminadas com eventuais vírus dos roedores, o que já melhoraria muito as perspectivas de seu uso terapêutico - embora os pesquisadores deixem claro que essa hora ainda vá demorar a chegar. Doadores doentes A identidade dos doadores dos núcleos aponta tanto as possibilidades terapêuticas quanto o verdadeiro uso que as células ainda terão por muito tempo. Nove deles são pessoas com lesões na medula espinhal, enquanto os outros dois são portadores de diabetes tipo 1 e CGH (doença grave do sistema do organismo). "Um dos motivos para escolher essas pessoas é que seus problemas estão relacionados a tipos básicos de tecido do corpo", explica Schatten. Estudando as 11 linhagens, os pesquisadores seriam capazes de acompanhar, passo a passo, como se formam as células nervosas (lesadas por quem sofreu um ferimento na medula) ou as células beta do pâncreas (que são destruídas pelo corpo nas pessoas com diabete tipo 1). Essa deve ser a aplicação mais imediata das células-tronco: entender os mecanismos básicos de cada doença. "As células estabelecidas de gente com doenças genéticas representam um modelo muito poderoso para pesquisa básica", avalia Lygia da Veiga Pereira, pesquisadora da USP que trabalha com o tema. Rosália Otero, que estuda células-tronco adultas na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), concorda: "Como eles mesmos ressaltam no artigo, isso permitira o desenvolvimento de uma área que eles chamam de research cloning, ou clonagem investigativa". Cautelosos, tanto Hwang quanto Schatten dizem ter chamado a atenção dos próprios doadores para o conceito: "Deixamos claro que não haveria beneficio terapêutico", diz o americano. Schatten, no entanto, afirma que o potencial terapêutico é real. "Para um futuro transplante, retirar células-tronco de embriões de clínicas de fertilização pode não ser suficiente para cobrir toda a diversidade dos pacientes. Com essa técnica, a coisa fica simples". É bom lembrar o outro lado da moeda: se a doença for de fundo genético, é provável que as células clonadas do próprio paciente sofram do mesmo problema. Nesse caso, o único caminho seriam células-tronco de outras pessoas. Cópia Britânica Também ontem, cientistas britânicos anunciaram seu primeiro sucesso na clonagem de um embrião humano, informou a rede BBC. Eles agora chegaram ao estágio em que o grupo coreano estava no ano passado. Os resultados foram obtidos por um grupo da Universidade de Newcastle, a partir de óvulos de 11 mulheres e de células-tronco embrionárias. Três dos clones resultantes viveram e se desenvolveram em laboratório por três dias. Um sobreviveu por cinco dias.

Folha de São Paulo

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