Cuidar da saúde com a eficiência científica ocidental ou com a sensibilidade dos orientais? Não é preciso mais escolher. A tendência agora é aliar os conhecimentos desses dois mundos tão diferentes. “É muito ruim essa visão de que as coisas são alternativas e excludentes. Ou uma ou a outra. Elas são complementares. Esse entendimento é muito melhor”, acredita o médico Luiz Eugênio Mello, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), um dos organizadores do primeiro Simpósio Internacional de Medicinas Tradicionais, realizado neste final de semana, em São Paulo.
“A medicina moderna se tornou mais técnica e ao se tornar mais técnica gerou um afastamento da relação médico-paciente”, reconheceu Mello, pró-reitor de graduação da universidade, ao G1. Foi exatamente isso que afastou o paulistano Francisco José dos Santos, de 28 anos, dos consultórios e hospitais.
“Não gosto de médico convencionai. Ele vai lá, examina, diagnostica, passa remédio e manda embora”, reclama. “O médico oriental, não. Ele faz uma análise completa. Sente o cheiro da pessoa, vê as unhas, as linhas do rosto, pega nas mãos, conhece por completo. Daí monta um tratamento específico. É mais próximo, mais humano”, conta Santos.
Mello defende que nem todos os médicos “convencionais” são afastados de seus pacientes, mas afirma que o ideal é unir as duas formas de tratar as pessoas. “Eu não posso excluir aquilo que eu já sei que funciona, que está garantido. Mas tampouco posso excluir aquilo que pode funcionar”, diz o médico.
Um exemplo? A acupuntura, prática milenar chinesa que usa agulhas para tratar de dores musculares e problemas neurológicos. “A gente tem tratamentos muito bem estabelecidos, como por exemplo, contra a apnéia do sono. Funciona tão bem quanto o tratamento padrão”, conta Mello.
Francisco dos Santos já comprovou a eficiência das agulhas chinesas. Sofrendo de dor nas costas, ele pediu a ajuda de um mestre na prática. E aprovou.
“Nunca mais senti nada”, disse ele. Luiz Eugênio Mello diz que esse tipo de comentário é comum. “Ninguém quer largar a acupuntura. Quem começou esse tratamento se trata assim até hoje”, conta
Medicina tradicional ‘made in Brazil’
No sentido correto da palavra, a medicina “tradicional” leva em conta também os conhecimentos, por exemplo, dos povos indígenas brasileiros. “Também é uma medicina baseada na cultura e no contato do indivíduo com a natureza”, conta Luiz Eugênio Mello.
Os índios brasileiros trabalham com várias plantas para tratar todo o tipo de problema de saúde: o que inclui aí até anticoncepcionais e antiinflamatórios. “Eles não usam exatamente os mesmos termos. Não falam de ‘inflamação’, mas o resultado é exatamente o mesmo", afirma o médico.