Fim da autorização para fazer laqueadura ou vasectomia endossa mudança nos costumes.Renato Janine analisa como as mudanças tecnológicas, culturais e de costumes alteraram a visão das pessoas sobre o desejo de ter filhos ou não, e também sobre o casamentoo para aumentar ou diminuir o volume.
Na última semana, o Senado Federal aprovou o fim da necessidade de autorização do cônjuge para a realização de laqueadura ou vasectomia. Em sua coluna, o professor Renato Janine Ribeiro aponta que essa decisão reflete mudanças culturais e de costumes. Antes, esperava-se que o casamento gerasse filhos e qualquer ação no sentido de impedir isso era malvista. Muitas pessoas não sabem, diz o colunista, mas até a década de 1960 ou 1970 não apenas havia poucos anticoncepcionais, como, em muitos países, era proibida a venda ou o acesso a eles. E o normal das relações sexuais era gerar filhos.
O professor lembra que a mudança desses costumes ocorreu devido ao progresso tecnológico, que levou ao desenvolvimento de métodos contraceptivos mais eficientes, como a pílula anticoncepcional, além de novos comportamentos, como a inserção de mulheres no mercado de trabalho e o fato de muitos casais optarem por ter poucos filhos ou mesmo não tê-los. E se a meta dos casamentos deixou de ser ter filhos, não faz sentido a autorização do cônjuge para procedimentos como laqueadura ou vasectomia. Nos tempos atuais, faz mais sentido ter autorização tanto da esposa como do marido para ter filhos, diz ele.
Janine aponta também que a meta das pessoas deixou de ser casar-se, como era há algumas décadas: esperava-se que a mulher tivesse um marido e que o homem tivesse uma esposa. “Tudo isso mudou muito. Essa decisão endossa essa mudança de costumes. A meta dos jovens não é mais, necessariamente, se casar, e a meta de quem se casa não é, necessariamente, ter filhos”, finaliza.