Adriana Dias Lopes
Nos próximos meses chegará ao Brasil o primeiro remédio
de última geração para tratamento de câncer de cabeça
e pescoço, que inclui a região entre o nariz e o esôfago.
O cetuximabe (princípio ativo do Erbitux, da Merck alemã) recebeu
ontem o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa).
A cada ano, são diagnosticados cerca de 30 mil casos
deste tipo de tumor. Até agora, a doença era tratada com quimioterapia,
radioterapia e cirurgia. O Erbitux faz parte do grupo de medicamentos chamados
“terapia-alvo”, com ataque direto ao mecanismo das células
cancerosas que estimulam a expansão da doença. As drogas tradicionais
agem com pouco critério, atuando em todas células que se dividem
com velocidade.
Na forma injetável, o novo remédio mata as células
cancerosas de duas formas principais. “Ele é um anticorpo que se
liga aos receptores de crescimento presentes na superfície das células
cancerosas”, explica Luiz Paulo Kowalski, diretor do departamento de Cirurgia
de Cabeça e Pescoço do Hospital do Câncer, em São
Paulo. Ao chegar lá, faz com que esses receptores sejam bloqueados. Com
isso, as células deixam de se multiplicar e morrem - o câncer é
a multiplicação desordenada das células.
Outra forma de agir é fazendo com que esse anticorpo
se ligue a esses receptores e sirvam de alvo de atração para o
sistema de defesa do corpo (veja na ilustração ao lado). “Ele
(o anticorpo) estimula o sistema de defesa do organismo, que passa agir mais
intensamente contra as células do câncer”, explica o oncologista
Paulo Hoff, diretor-executivo do Centro de Oncologia do Hospital Sírio
Libanês, em São Paulo.
A droga age das duas maneiras ao mesmo tempo. “Esse anticorpo
tem a forma de Y. As perninhas de cima fazem com que os receptores sejam bloqueados
e a ‘haste’ fica para fora e serve de alvo para as células
de defesa do corpo”, conta Hoff.
TUMOR AVANÇADO
O novo medicamento é indicado para os casos de câncer
avançado que não responderam à quimioterapia, à
radioterapia nem à cirurgia. “O cetuximabe simboliza a melhor contribuição
da Medicina para este tipo de tumor nos últimos 30 anos, mas não
elimina os outros tratamentos”, analisa Kowalski.
A região da cabeça e pescoço é
delicadíssima. “O número de vasos e nervos nessa parte do
corpo é muito alto, o que torna a região uma das mais complexas”,
diz Hoff.
Em fase inicial, a possibilidade de cura dos tumores de cabeça
e pescoço é de 75% a 90%. Em fase avançada, a chance de
cura é de no máximo 30% - cerca de 85% dos casos são detectados
em etapa adiantada.
O estudo clínico que comprovou a eficácia e a
segurança do cetuximabe mostrou que a sobrevida dos pacientes com câncer
avançado tratados com a droga em associação com radioterapia
foi de 49 meses. Só com radioterapia, 29,3 meses. Manchas na pele são
o principal efeito colateral do medicamento.
Na mesma linha de terapia-alvo só neste ano foram aprovados
pela Anvisa pelo menos quatro remédios, como o Tarceva, para câncer
de pulmão (Roche), e o Sutent, para rim (Pfizer). Todos estão
na Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED),
órgão do governo federal que regula os preços dos medicamentos
no País, e ainda não chegaram ao mercado.