Passeio até a Vila Leão – 1ª parte
--Sei leitor, que, nesta época tão agitada, você se sente meio perdido no cotidiano destes dias, quando, mais e mais, as pessoas se desconhecem. Vou levá-lo para um passeio e você, como é destas paragens irá se extasiar ao rever lugares e rostos de pessoas amigas. Conto com sua imaginação para considerar ainda existente os locais por onde iremos passar. Relaxe esqueça teus problemas, venha comigo e... Pronto, chegamos! Aqui é o famoso “pau de amarrá égua”, nosso ponto de partida. São grossas toras de arvores entre si equidistantes e em linha, fincadas ao chão para conter algum veículo desgovernado que possa despencar pela ribanceira até ao rio abaixo. Aqui nunca foi para amarrar éguas. Serviu para os encontros combinados entre as moças ou os rapazes de várias vilas do Bairro da Fábrica, para depois, seguirem juntos até ao clube ou para embarcarem na maquininha, o trenzinho para passageiros. Perceba, daqui onde estamos se vê a ponte de madeira, depois dela a guarita com uma porteira, passagem obrigatória para a Vila Pansutti e para a Vila da Ponte Seca. Agora veja esta subida. Seguindo por ela passaremos defronte ao armazém. Mais acima está à garagem dos carros da indústria e depois dela, num pequeno espaço plano temos a pracinha com jardim e um laguinho com peixes ornamentais a enfeitar a Portaria Um, o acesso aos funcionários da fábrica de papel. Essa descrição te foi apenas para rememorar estas adjacências, mas, nosso destino é a Vila Leão. Caminhemos então e... Veja! Aqui à esquerda neste fim do pau de amarrar égua está à cocheira do cavalo do conhecido Hilário Caresato. Defronte à direita está a oficina para carros do Maximo Pastro. Antes era a sorveteria do Alfredo Satrapa e agora até fiquei com “água na boca” porque me lembrei que, aos domingos, o Afonso, pai do Sucuri (Eduardo Pinto Cunha) lotava um carrinho de sorvetes e ia vendê-los pelas ruas do bairro. Olha, aqui à direita é a rua que vai dar lá na Vila Pereira. À esquerda dela é a subidinha que vai dar lá na Vila Nova. Continuando, esta primeira casa à esquerda é a do Vitório Olimpio (motoqueiro) onde um neto ao aqui nascer já tinha o sonho de ser proprietário do melhor jornal e da melhor estação de rádio da região e, prevendo o futuro, depois do Vitório, quem aqui vai morar será o Senhor Peroba, motorista. Nesta segunda casa mora o Antonio Gabriel. Aqui já é a casa da viúva Nicassia. Nesta outra mora o Vicente Lisa, nesta o Luiz Molinari e na última desta fileira temos a casa dos irmãos Valentim e Hernani Cavaletti. Escuta, só estou me referindo aos nomes dos “chefes” das famílias, pois, a lembrança dos demais membros delas eu deixo pra você, tudo bem? Sigamos então! Depois de um espaço sem construções entre a casa do Valentim e esta outra fileira de casas agora a nossa direita, esta primeira é a dos Bertolazes. A segunda é a do Nelson Parizotto (Bolão). Antes dele ela pertenceu ao Chico Pastro. Esta seguinte com uma placa incrustada na parede alusiva ao ano de sua construção, 1942, primeiro ela pertenceu ao Alberto Olimpio (motoqueiro). Depois dele, ao Benjamim Nani e agora pertence ao Augusto de Freitas. A casa ao lado era do Antonio Polatto (Operário e barbeiro nas horas vagas). Depois pertenceu ao Antonio Ravazio e depois ao Valdir... Esta penúltima casa pertenceu ao Nelson Turini... Que saudade de sua filha Mariliza! Depois do Nelson o morador foi o Danilo Valbuza, depois o Pedro Pastro, depois o Crescêncio Decresci e depois o José Stopielo. Aqui na última casa desta fileira morou o Domitilio da Silva seguido pelo Didi Borsi. Então leitor, você... “FÍGADO, LINGUA, CORAÇÕES”. Calma não se assuste! Quem gritou assim foi aquele vendedor ambulante. Ele anuncia fígados, línguas e corações, mas, se alguma freguesa for querer coração ele diz que não tem (risos). Ele carrega aquele cesto de vime ao ombro e sempre está com aquele paletó velho e ensebado (esta lembrança vai à homenagem de Anita Olimpio Gardim que imitava os gritos do homem). É leitor, quem sempre passa por aqui numa carroça é o Firmino de Perus que, sempre com um palito na boca e sem qualquer higiene ele vende carne e as pessoas daqui compram. Outros ambulantes também frequentam este lugar como o Armando Louceiro, o Gordão e também o Zé da sacola que vendem tecidos. A Dona Maria Sato também passa por aqui com sua carrocinha vendendo verduras. De carroça também passa por aqui o Seu Gustavo vendendo verduras, rapaduras, cidrão e outras coisas. Lembrei-me também de um menino que vendia pirulitos tipo guarda-chuvinha enfiados nos buracos de um tabuleiro e de um senhor a aparecer às vezes com o seu carrinho de fazer algodão doce e a criançada... Olha quem vem lá. Ele já vai gritar, escuta... “SALSICHEIRO! SALSICHEIRO!” Não te falei? É o Julio Faceo portando duas sacolas pra vender linguiças, salsichas e outros frios gostosos.
--Boa-tarde Senhor Julio. Como vai o clarinete e os bailinhos familiares?
--Vai bem e você o que faz por aqui?
--Eu e esta pessoa amiga estamos dando um passeio até a Vila Leão.
--Bom passeio, então. Não vão se perder, hein? Tenham uma boa tarde.
--Leitor olha o que vem lá agora. É o furgão azul do Eduardo Pazera, o padeiro da Cresciuma que diariamente nos vem vender pães fresquinhos. São umas delícias, mas... Você está gostando do passeio? Você está muito quieto.
--Ah estou gostando sim. Estou quieto porque quero apreciar tudo.
--Que bom... Bem, a próxima vila é a da Ilha das Cobras. Paremos um pouco por aqui neste lugar onde a molecada joga bola e depois continuamos. Tudo bem?
--Sim, tudo bem. Posso então subir por este barranco e catar cana para chupar?
--Pode sim, mas, escondido, porque o canavial é do Luiz Molinari e se ele aparecer por aqui, ai é que você vai saber o que é levar uma bronca.
--Mas, como vamos descascar as canas? Nós não temos faca ou canivete.
--Ora, ora, será com os dentes. Até parece que você não teve infância.
Altino Olympio
Francisco J. V. Freitas, o Chico Trem