O Menino na Ponte
Dia de sol quente depois de ter chovido muito, isso, estou vendo.Descalço como sempre o menino está no meio da ponte de madeira com o seu cachorrinho preto e branco, companheiro inseparável. Encantado como estando hipnotizado seu olhar mais se direciona para o paredão, a pequena represa com suas três comportas abertas precipitando a queda d’água do rio de cima para o rio de baixo. Som alastrante do despencar até o turbilhão da união brusca entre as águas se jorrando com as abaixo antes não revoltas. Vários peixes emergindo saltitantes do reboliço líquido se atiram nas águas em cascata desaparecendo nelas. Debruçado no para-peito da ponte o menino assiste a correnteza das águas turvas em redemoinho passar sob ele.Um homem ao passar pela ponte acariciou sua cabeça com uma das mãos e brincou por causa do seu corte de cabelo estilo careca com topete. “Homens grandes” pensou o menino “já não contemplam a natureza, vivem apenas olhando para dentro de si mesmos”. Dia claro com sol quente, a ponte de madeira, o menino e o cachorro, alvoroço das águas abaixo e a calma do céu azul acima no rincão onde a natureza se chama Caieiras, poderia existir a magia de um alerta: “Menino, escuta, fica ai mesmo, não atravesse pela ponte do amanhã, congele o tempo, congele tudo. Não queira crescer porque a vida pode estraçalhar com você”. Alertas mágicos não existem e o menino está absorto em seu arrebatamento quando um galope se fez ouvir. O tempo parou para permitir passar uma charrete com suas rodas se barulheando nos pequenos espaços existentes entre os dormentes da ponte. O velho na charrete é um homem muito conhecido de nome Santo Vince ostentando o bigodão que o caracteriza. Seguindo com o olhar o passar da charrete o garoto, maroto se pôs a cantar: “Eu não te disse se se, que não bulice ce ce, que no bigode de de, do Santo Vince ce ce”.