Em Caieiras (êta cidadezinha porreta) nos seus velórios destes nossos dias, alguns remanescentes daquele passado saudoso, se encontram e “matam” a saudade daquele tempo que ficou em suas memórias. Não é raro vermos conhecidos que por vinte, trinta ou quarenta anos ficamos sem vê-los e sem notícias deles. E assim, apesar da tristeza que envolve os familiares durante o velório de seus falecidos, aquele ambiente torna-se descontração para outros que relembram suas histórias com outros com suas histórias também. Não é incomum se ouvir dizer: “Você viu quem está aí? É o fulano (ou fulana). Nossa! Quanto tempo que eu não o via”. “Puxa vida! É ele mesmo, eu não o tinha reconhecido” responde outro. Às vezes o velório transforma-se no resgatar de elos perdidos. Nós somos do tempo em que não existia a bosta da televisão e os automóveis eram raros. Foram dois componentes que surgiram para separar pessoas de suas amizades, aquelas de outrora daquele viver calmo e pacífico. Isto explica o prazer de revermos antigos amigos, mas, infelizmente, quase só os vemos nos velórios de seus parentes.
A história que vamos contar agora, não nos foi narrada em velório, mas, é parecida com as muitas que contam por lá.
Por volta do ano de 1930, dois homens solteiros, da cidade de São Paulo estavam retornando para Caieiras numa motocicleta, pela Antiga Estrada Velha de Campinas. A estrada assim chamada, era sem asfalto e mais ladeada por mata do que por moradias.
Antigamente, ir para São Paulo sem ser com o trem, o trajeto era muito demorado. De motocicleta então, era uma aventura “arriscada” por poucos corajosos, como, foram os dois irmãos jovens e solteiros, Augusto e Alfredo Satrapa. O Augusto no comando da moto e o Alfredo na garupa.
Naquela volta de São Paulo, talvez, por estarem cansados ou por terem engolido muita poeira, depois de terem passado pelo local chamado Fazendinha (nome ainda atual) que pertencia ao Bairro de Perus, os dois resolveram parar para esticarem as canelas. Ou talvez, também, coisa que pouca gente sabe, trafegar numa moto por muito tempo, ocasiona dor no saco, provocada pela vibração do motor e ainda mais naquele tempo que naquela estrada existiam muitas costelas de vaca (valetas próximas umas das outras, surgidas pelo escorrer das águas das chuvas) e as motos não possuíam amortecedores.
Para descansarem, os dois pararam no início de uma das muitas subidas que existiam, mas, aquela estava cerca de cem metros antes da entrada à direita, da rua que dava acesso ao Bairro das Laranjeiras, nome ainda mantido desse bairro que pertence à Caieiras.
Os dois descansaram próximos à uma pedra enorme que naquele local existia (a mesma ainda está lá) e quando resolveram reiniciar a “viajem” de volta e com eles já montados na moto, o Augusto pedalava, pedalava e pedalava e a moto não “pegava”. Seu suor pingava e respingava, como, o mesmo acontecia com o Alfredo que também pedalava para ajudar o irmão, pensando-se ter mais sorte, mas que nada, pedalava e a moto não pegava.
De repente... um susto foi apavorante para os dois. Suas pernas bambearam ao verem uma onça bem grande em cima daquela pedra olhando para eles. Que fazer naquele apuro?
Inacreditável! Numa primeira e única pedalada o Augusto conseguiu fazer a moto pegar e os dois fugiram da onça porque não eram “amigos da onça” como já eram alguns daquele tempo. Poucos anos depois, ao se casarem, os dois irmãos deram adeus às aventuras com onças para se dedicarem à constituírem família. O Augusto se casou com a senhora Gisela Kocsis (Guisa, como era conhecida) e três filhos vieram para suas alegrias: Rodolpho, (Rudi ou Rudão), Walter e o Renato (Caiaca). O Rudi vive hoje na cidade de Uberlândia (M.G.) e já mandou e-mail e fotografias para este jornal “A Semana”.
O Alfredo casou-se com a senhora Ana Gondari e também para manterem o sobrenome Satrapa, trouxeram ao mundo dois filhos homens: o Eduardo (Ede) e o Paulo. A história que narramos, foi-nos contada pelo Ede, conforme seu pai havia lhe contado. Ainda nestes dias, quando ao passar por aquele local da onça temerosa, ao ver aquela pedra, o Ede sempre se lembra daquela história. Também convém lembrar que o pai dele refrescou muita gente com os sorvetes que fabricava lá no Bairro da Fábrica. Eram “sorvetes de palito” e de massa também. Aos domingos, o Sr. Afonso, o pai do Dinho (Eduardo Pinto Cunha), aquele que fumava cachimbo, ele, com um carrinho de mão, vendia sorvetes do Sr. Alfredo lá no hoje extinto “Clube do Fábrica” como também era chamado o antigo C.R.M.
Entretanto, paremos por aqui, isto traz nostalgia. Nosso obrigado ao Eduardo Satrapa pela colaboração com esta história para este jornal eletrônico.