02/04/2010Enterro maluco!Numa reunião para a nova equipe do Clube da Saudade do clube “União Recreativo Melhoramentos de São Paulo” lá no Bairro da Cerâmica, Caieiras, sobre a mesa da sala da diretoria do clube havia um troféu desagradável de ver. Uma bola de futebol murcha com algumas inscrições e sobre uma taça. Ao ler escrito na bola o “6 x 1”, resultado de um jogo de futebol que ficou na história, minha mente ausentou-se da reunião e “reviveu” aquele domingo de nervosismo. No fim da década de cinquenta do século passado, o time do Bairro da Fábrica, Clube Recreativo Melhoramentos (CRM), no campeonato local se defrontou com o time da casa, o União já citado acima. Para aquele dia a maquininha com vagões adicionais, se me lembro, veio superlotada até com gente de pé pelos estribos, todos sendo torcedores do time “visitante” o CRM. Naqueles tempos com poucas opções de entretenimento, a maior atração local era o jogo de futebol aos domingos quando famílias compareciam. Muita rivalidade havia entre os associados desses dois clubes, um chamado Clube de Caieiras (o União) e o outro, Clube da Fábrica (o CRM). Na pequena arquibancada e no cercado ao todo redor do campo não mais havia espaço donde se pudesse assistir ao jogo. A gritaria se fazia ouvir conforme os gols iam acontecendo. Um a zero, dois, três, quatro, cinco e seis a zero. Todos para o Clube de Caieiras. Naquele tormento generalizado numa das torcidas o desabafo foi xingar o goleiro do próprio time, o então Gaiola, apelido este do Benedito Soares culpando-o dos “frangos” passados por ele. Sim, esteve ele visivelmente nervoso durante o jogo na pressão sofrida vinda de sua torcida e pela provocação maldosa da torcida contrária. O único gol para o CRM foi feito pelo Gervásio Massimelli, também chamado pelo apelido de Bahia. Terminando o jogo no resultado de “seis a um”, os torcedores do Bairro da Fábrica, muito tristes, resmungando e cabisbaixos naquele “parece que acabou o mundo” retornaram à suas casas. Entretanto, à noite, torcedores do “União” percorreram alguns bairros de Caieiras indo até nas proximidades da estação de trem da ainda chamada Estrada de Ferro Santos à Jundiaí (hoje CPTM) portando uma imitação de caixão de defunto, o qual representava o time do CRM que havia morrido. Foi um enterro simbólico acompanhado de algazarra que muito deu no que falar. Indisfarçável, muito irritou os habitantes do Bairro da Fábrica. A alegria de uns esteve a decepcionar quando esteve a depreciar e ridicularizar a tristeza de outros. Na semana seguinte o jogo e o “enterro” estiveram a ser os assuntos principais em todos os departamentos da Indústria Melhoramentos de Papel de Caieiras onde a maioria dos associados e mesmo jogadores de futebol de ambos os clubes trabalhavam. Apesar das rivalidades entre os clubes, no trabalho e naquele lugar do comum viver, todos eram amigos entre si. Voltando agora para aquela reunião citada no início, durante ela foi que aquela bola murcha de futebol colocada numa taça provocou recordações de um domingo quando fortes emoções estiveram “pelo ar” de Caieiras do passado. “Olhando” para ele, quem lá esteve naquele domingo e ainda está por aqui vai sentir nostalgia e até mesmo se sentir mais sozinho ao relembrar de outros que lá estiveram e que eles já chegaram ao fim do jogo em que a vida sempre perde para a morte, mesmo ela não tendo nenhuma “torcida”.
Altino Olympio