Não sei qual foi o estímulo que fez com que eu me lembrasse do pau de sebo, nome este de um dos brinquedos competitivos das festividades dos feriados de primeiro de maio, dia do trabalho e de quando tais festividades em Caieiras eram patrocinadas pela Indústria Melhoramentos de Papel local para os três clubes locais, o Clube Recreativo Melhoramentos do Bairro da Fábrica, o Brasil Futebol Clube do Bairro do Monjolinho e para o Clube União Recreativo Melhoramentos de Caieiras. O dia do trabalho era uma mentira porque nesse dia ninguém trabalhava. Todos só brincavam e se divertiam, assim como será explicado no decorrer deste relato.
Mas, o pau de sebo foi um estímulo para que eu me lembrasse também de outras brincadeiras de então. Vou discorrer sobre elas, sobre as que me lembro deixando o pau de sebo para o fim. Tais feriados de primeiro de maio tinham a participação dos operários e escriturários da indústria e de seus descendentes. Em outra crônica já foi citado que naqueles festejos havia a distribuição de chopes e sanduíches de pão com salsichas. Mas, lá no campo de futebol onde muita gente se distraia, muitos ficavam dentro do campo, outros ficavam atrás do cercado do campo e muitos lotavam a arquibancada. Todos ficavam atentos para as disputas brincalhonas que ocorriam entre os participantes delas, crianças, jovens e adultos.
Uma das disputas para as moças era aquela que elas do meio do campo de futebol teriam que correr até uma das traves do gol com um ovo numa colher. Quem deixava o ovo cair saia da competição e a moça que chegava primeiro até o ponto de chegada sem deixar o ovo cair ganhava a competição. Se me lembro ou se não estou enganado havia também a brincadeira das moças para enfiarem a linha no buraquinho de uma agulha, mas, não me lembro como era essa brincadeira. Para os homens era divertida a corrida de saco. Também do meio do campo até o gol todos eles dentro dos sacos corriam aos pulos querendo ser o primeiro a chegar. Os sacos dos competidores eram bem grandes. Eles pulavam segurando o saco para eles não caírem.
Eu que era um garoto tímido a tudo assistia e nem imaginava que em algum dia no futuro iria descrever, pelo menos em parte, como eram tais brincadeiras. Uma delas para crianças era aquela que colocavam uma moeda numa bacia cheia de farinha de trigo e a garotada tinha que enfiar a cara na farinha para encontrar a moeda com a boca. Quando elas tiravam o rosto da bacia com farinha elas ficavam com o rosto todo branco.
Outra disputa para adultos era aquela que um batia com o saco no outro. Para isso havia um pau redondo não muito comprido para dois homens se sentarem nele. Apoiado entre dois cavaletes, o pau duro e redondo rolava e desequilibrava quem estava sentado nele. Além de se equilibrar no pau para não cair a brincadeira consistia em agredir o oponente com o saco. Meu pai uma vez participou dessa brincadeira. Ele e outro homem, sentados no pau se agrediam com o saco. Os sacos dos dois eram do mesmo tamanho. Meu pai numa sacada dada pelo outro fez o pau girar e o derrubou ao chão. Isso eu vi porque estava lá torcendo por ele. Meu pai foi caído pelo saco do outro homem porque o saco dele não acertou na cabeça do outro para derrubá-lo também.
Uma competição para os ciclistas apaixonados por duas rodas era aquela em que o último a chegar era quem ganhava o prêmio. Também partiam do meio do campo até chegarem à trave do gol que era a chegada. A maioria se desequilibrava e saia da competição. Não era fácil ficar com a bicicleta parada ou quase parada sem perder o equilíbrio. Naqueles primeiros de maio à tarde a competição era futebolista. O jogo de futebol era dos homens contra as mulheres. Ou melhor, um dos times de homens comparecia para jogar vestido com roupas de mulher. Era engraçado vê-los competindo com roupas femininas, mas, não percebi se eles estavam vestidos de sutiã e de calcinha também. E enquanto eles ficavam correndo atrás de uma bola, lá na sede do clube ficava tendo um baile animado.
Uma das atrações que ficava para o fim era a do pau de sebo. Era um pau comprido todo ensebado e liso, daí o nome pau de sebo. Era fincado ao chão e lá em cima no topo havia um aro de metal que coroava o pau. Em toda a volta do aro havia envelopes dependurados que continham os prêmios para quem conseguisse subir até lá e apanhá-los. Ah e ninguém conseguia. Os jovens ficavam sós de calção para não sujarem suas roupas, esfregavam as mãos com areia, se abraçavam naquele pau duro e liso, mas não conseguiam subir até o topo porque escorregavam. Muitos tentavam subir, mas como tinha sebo no pau eles não conseguiam. Foi um desafio até quando surgiu a idéia de formarem uma escada humana sendo ela de uns trepando nos outros. Os mais fortes ficavam em baixo e os mais fracos trepavam neles. Quem já havia trepado nos de baixo ficava pra ser trepado por outro que lhe ficaria por cima. O último a subir pela escada humana tendo trepado em todos que estavam agarrados ao pau era quem chegava até o topo dele para recolher os envelopes com os prêmios.
E assim eram as festividades de primeiro de maio em Caieiras. Quem hoje se lembra daqueles tantos que já morreram e que com suas presenças prestigiaram aquele eventos de quando a amizade prevalecia entre todos e era diferente de como são as amizades de agora cada vez mais ausentes?
Altino Olimpio