Naqueles tempos monótonos, um dos principais “sonhos” dos jovens era ter a felicidade de ver as pernas das mulheres acima dos joelhos, claro, mas, era muito difícil, embora, como nestes dias, naqueles elas ainda não usavam calças compridas como os homens. Trajando saia ou vestido, quando uma moça daquela época ao sentar-se cruzando as pernas e numa fração de segundo se conseguia ver depois das coxas e entre elas, aquela região “misteriosa” e sempre oculta, enfeitada com a cor clara da calcinha, isso era muito mais bonito do que toda a beleza do paraíso. Aquela rara visão benéfica tão importante para qualquer homem elevar-se até as alturas do infinito, tal visão perdurava por muito tempo na mente e imaginação enaltecia mais aquela região, a mesma com a qual a Eva tinha estonteado o Adão, provocando-lhe a queda de um paraíso para penetrar noutro mais gostoso, mais real e mais acessível. Os jovens e os não tão jovens de antigamente viviam com o olhar atento para algum descuido feminino que lhes propiciasse aquela visão inusitada de pernas de mulher.
Preponderante era esse desejo que os jovens de Caieiras e do Bairro da Fábrica de Papel, na ânsia de sondar o mais íntimo mistério feminino, descobriram na antiga ponte de madeira, a cumplicidade para seus intentos. No início de um dos lados da ponte, abaixo e num pequeno espaço ainda plano antes de inclinar-se como um precipício até o rio, ali ocultos os jovens olhando para cima podiam ver por entre as frestas das junções dos caibros de madeira que constituíam o piso da ponte, alguém que passasse por ela. Naquela situação de ver as pessoas por baixo e naquele tempo que as mulheres só usavam saia ou vestido, parecia possível admirar e “lamber os lábios” ao ver o que elas mais escondiam dos homens. Parecia possível, mas, não era. Era difícil obter tal deslumbramento, porque, uma mulher, mesmo ao passar devagar, olhando-a apenas por uma das frestas, ela era estreita demais e insuficiente para abarcar a imagem da mulher em movimento sobre a ponte. Seria preciso ir de fresta em fresta acompanhando o andar dela, mas, o obstáculo era a falta de seqüência das frestas entre os caibros da ponte, pois, alguns deles eram bem unidos e nem um mínimo espaço existia entre eles. Sendo assim... Que decepção!
Diziam as “más línguas” daquela época, que, as moças evitavam qualquer descuido que pudesse facilitar os moços para ver suas pernas, pois, poderiam ver também suas calcinhas. E disso se envergonhavam porque, confeccionadas em suas casas, o tecido usado era branco e de saco de farinha de trigo. Era verdade, pois, já haviam sido vistas em varal de estender roupa para secar. Por um cruzeiro (dinheiro da época) ou menos, se comprava no armazém um saco vazio e quando de uma família a mãe das moças não fosse muito gorda, de um só saco se confeccionava várias calcinhas. E elas eram mais higiênicas do que as desta época porque, mais largas não se comprimiam retorcidas nem se introduziam naquele lugar mais secreto e absorviam mais umidade do suor dele. Quanto aos homens, suas cuecas tendo hoje o nome de “samba canção” também eram do mesmo tecido.