Os equilibristas
O Nilson Rodrigues nascido na Vila da Curva lá do Bairro da Fábrica de Papel, colecionador de fotos antigas, nem sendo misto-quente é irmão do Bauru. Foragido agora na Cidade de Peruíbe solicitou uma crônica sobre o saudoso Batistinha e outros personagens marcantes do passado. Igual ao Nilson, outros melhoramentinos como o Walter Satrapa, Renato Marchesini, Edson Navarro, Carlos Alberto de Moraes, André Pastro, Fred Assoni e outros, pioramentinos agora (já estão velhos, feios e impotentes) gostam de relembrar fatos de quando eles os presenciaram. Vamos lá então:
O Bairro da Fábrica de Papel do município de Caieiras teve o privilégio de ter os habitantes mais descontraídos da região. Às noites dos dias de semana, no silêncio de todas as ruas, em suas casas os moradores se distraiam assistindo televisão. Não todos, pois, os libertos da prisão familiar ou domiciliar frequentavam o Clube Recreativo Melhoramentos. Lá alguns tinham a coragem de assistir no branco e preto a televisão do clube que sempre sumia as imagens pelo defeito do “vertical ou horizontal” cujos botões só eram manipulados por algum diretor do clube e este, sempre irritava porque “era lerdo” para sanar o defeito. Os mais jovens jogavam ping-pong até quando a bolinha não trincava. Eles pediam outra e algum membro da diretoria negava dizendo não ter e ainda reclamava das muitas bolinhas que por mau uso eram danificadas. Na chamada sala de jogos onde se encontrava o banheiro masculino que ainda era privada pelo cheiro que continha, os moços maiores de dezoito anos de idade jogavam ou esperavam suas vezes de jogar snooker. Os mais velhos pelas mesas espalhadas da sala jogavam baralho. Entretanto, havia uns personagens diferentes que não se envolviam com essas distrações de crianças. Íntimos entre si ficavam reunidos próximos ao balcão do bar do clube que era ao lado da sala dos jogos e ali eles ingeriam álcool, o néctar da alegria. Às vezes os invejosos os expulsavam de lá. Os seres humanos carrancudos e amargurados pelas responsabilidades e por problemas criados por eles mesmos detestavam aqueles sem essas suas ilusões iguais. Os personagens diferentes, sempre alegres e sem as máscaras de homens sérios eram o Batista, o Pasquim, o Brito, o Marco Muniz, o Xará, o Baltazar e o Beiço, sendo estes os ainda a existir na memória. Quando eles ficavam reunidos no clube e defronte ao bar, eles pareciam praticar uma dança ginástica movimentando o corpo de um lado para outro numa coreografia inimitável para outros sofrendo de sobriedade. Mas, não. Tudo era o se equilibrar por causa do efeito do néctar da alegria maldosamente chamado de pinga. Durante os dias, eles (não todos) tinham suas funções específicas na fábrica de papel. O Batista conduzia o cavalo de nome Jardim puxando carroça com materiais de construção para os pedreiros executarem suas tarefas. O Xará ficou sendo ascensorista depois de perder um braço num acidente. Havia no lugar mais um senhor sem um braço conhecido como João sem braço que era chefe na indústria local, mas não era íntimo dos equilibristas sob o efeito do néctar da alegria e nem freqüentador do clube. O Marco Muniz não trabalhava porque parte de uma sua perna fora cortada pelo trenzinho Perus-Pirapora. Os outros da turma da alegria se tinham também suas ocupações diárias, a memória não registrou quais eram. Os citados desta lembrança viveram como quiseram sem se importarem com os comentários contra eles num lugar onde quem “saia da linha” era destinado ao desprezo.
Altino Olympio