Espetáculo da vergonha
Em que ano foi mesmo aquele tumulto no campo de futebol do Clube Recreativo Melhoramentos do Bairro da Fábrica? Domingo, campeonato de jogo de futebol, arquibancada e adjacências do campo repletas de torcedores. Era mesmo um ambiente familiar. Naqueles tempos pais e filhos compareciam sem qualquer receio de serem confrontados com imoralidades. Naquele domingo o jogo era entre o time da casa e o time da Vila Cresciuma, o S.A.C. (Sociedade dos Amigos de Caieiras). Logo em seu início o placar já estava favorável ao time local e parecia mesmo que o time “visitante” (SAC) iria “levar” uma goleada, pois estava “levando um baile” do time local com maior número de craques. Inconformados pela inferioridade ou receio por um vexame, o time visitante provocou uma briga. Se me lembro, a primeira vítima foi o juiz (chamado de juiz da federação), um homem magro e pequeno. Que covardia, coitado, ele foi agredido pelas costas e foi gatinhando por vários metros até cair ao chão. Foi o início do tumulto. A maioria dos jogadores aderiu à briga e vários torcedores de ambos os lados invadiram o campo. Foi um espetáculo deprimente. A selvageria se espalhou por vários locais do campo e não ficou localizada apenas num lugar. Só se via e se ouvia “estalos” de socos e pontapés. Foi a maior pancadaria vista naquele clube. Destaco aqui uma das vítimas mais prejudicadas, o então conhecido Zelão e, como disseram, entrou em campo para apartar e não brigar. Embora corpulento ele “levou” a pior, pois, cercado, recebeu golpes de mais de um torcedor do time visitante, isso eu vi e conheço quem mais o agrediu, um sujeito famoso na região por ser bom de briga. O Zelão ficou muito ferido. Segundo o amigo Fred Assoni, o placar estava 3 X 1 para o C.R.M quando o jogo foi paralisado por causa da briga. Depois do conflito jogadores e torcedores da Cresciuma subiram em seus caminhões e foram embora, talvez, contando glórias. Os do local retornaram para suas casas, claro que, envolvidos com os comentários sobre o “amor ao próximo” que assistiram. À noite não voltei ao clube. Estava eu na casa do Antonio Caldo (o Nine) numa visita entre parentes. Durante nossa conversa animada ele chegou vindo do clube com novidades. Um dos integrantes da torcida adversária permaneceu na sede do clube do C.R.M. (os mais antigos sabem de quem se trata, inclusive os da Ex-Cresciuma). Teria sido uma ousadia? Teria sido para se “bacanear” do fato ocorrido durante o jogo de futebol? Mas, o Zelão ainda estava no clube. Com uma pesada ripa e como numa vingança contra as agressões sofridas, ele golpeou a cabeça daquele solitário torcedor adversário. Pelo comentário posterior soube-se que o homem sangrou muito. Sabia-se da rivalidade que existia entre os times de futebol locais e algum fanatismo, mas, fanatismo pior era aquele dedicado aos valentões bons de briga e os mais famosos eram alguns da Cresciuma. Lembro-me de vários deles e de seus nomes. Mais eles é que se envolveram em brigas nos bailes, em jogos de futebol, em carnaval... Isso também eu vi. Infelizmente, uma parte do povo imbecil como era, elogiava e enaltecia os “heróis” da ignorância congênita. Eles, então, felizes com a fama pareciam querer oportunidades para brigar, para com isso, continuarem na “privilegiada” situação famosa e “elogiável” entre seus fãs. Assim é a vida, quando um povinho enaltece as aberrações humanas, como acontece neste país vítima de corrupção, elas, tornam-se virtudes entre os degenerados. Ah, sobre o atual futebol local... Cadê ele?
Altino Olympio
Fred Assoni