Caieiras pagou pelo mico
Se a memória não falha foi no fim da década de cinquenta do século passado quando, um fato surpresa veio a ter predominância nos assuntos da região. O fato esquecido ainda pode ser relembrado pelos remanescentes daquela época. Um rapaz magro, alto, de pele mais escura e morador das imediações do Lago Tancão era um ser simples como a maioria dos outros do lugar. Depois de uma ausência ele retornou bem diferenciado e trajando uma bonita farda da marinha brasileira. Era toda branca e pelas insígnias ou divisas que ostentava seria ele um oficial, capitão de fragata ou de corveta. O Mico, este era o apelido dele, foi muito bem recepcionado pelo povo. Onde ele estava várias pessoas se agrupavam a sua volta. Lembro quando num domingo durante um jogo de futebol eu o vi na arquibancada do clube do Bairro da Fábrica esnobando seu sucesso na vida. Platéia para isso não faltava. Pessoas consideradas influentes se sentiam orgulhosas ao serem vistas ao lado dele. O Mico era assunto corrente também entre os “chefões” da Cia. Melhoramentos. Afinal, o rapaz simples se sobressaiu dos demais da região e era digno de ser enaltecido. Foi aluno do Grupo Escolar Alfredo Weiszflog e parecia estar um século à frente daquela época e sabia o que era ser discreto. Por baixo da carteira escolar ele tirava algo antes escondido pela calça e ficava bulindo naquilo endurecido numa lição que lhe dava prazer. Jamais alguém iria imaginar que aquele menino ao se tornar adulto pudesse ser tão promissor. Por isso, quando pra cá apareceu tão “graduado” era mesmo de se esperar tanta bajulação. Mas... A decepção viria para aqueles afoitos em aparecer ao lado daquela figura contagiante. Bastou uma notícia desagradável. A linda farda branca da marinha foi roubada de um oficial da marinha ao ele ser assassinado pelo Mico. E ele como saída para se livrar do que o aguardava cometeu suicídio. Parece que se envenenou. E assim, Caieiras “virou mais uma página” de sua história, dentre tantas a “caírem” no esquecimento pela falta de interesse de seus habitantes em relembrá-las por escrito e com razão, porque, isso é cansativo demais e o pior, não atrai dinheiro e por isso temos poucos colegas cronistas.
Altino Olympio