Era uma vez... voltando de suas compras do armazém, combinada com o destino, a natureza preparou um triste espetáculo para um menino. Forte demais para uma criança tão imatura!
Bairro da Fábrica! (Ind. Melhoramentos de Caieiras). Um menino e o seu cachorrinho Lulu, mestiço basset, preto com um filete branco partindo do queixo, prolongando-se por entre suas patas dianteiras, seguindo até ocultar-se em sua região inferior.
O pequeno cachorro do menino, fora dado ao irmão dele (Walter do Amparo Olympio) por um alemão, o Sr. Glaser.
Retornando do armazém, para evitar de dar a volta pelo local apelidado de “pau-de-amarrá-égua”, o menino com o cachorrinho, optou por cortar caminho por uma trilha em declive que, terminava num plano que antecedia a rua de chão batido (rua de terra sem asfalto) por onde transeuntes seguiam até a Vila Nova ou Vila São Leão.
Naquele fim da trilha, aquele plano terminava no lado de uma pequena construção de tijolos aparentes que era a sorveteria do Sr. Alfredo Satrapa, que, ficava de fronte a cocheira do Sr. Hilário Carezzato... opa... desculpem, cocheira do “cavalo” do Sr. Hilário.
Posteriormente a construção abrigou a oficina mecânica do Sr. Maximo Pastro.
Voltando a menino e seu inseparável cachorrinho, ainda pela metade daquela trilha, sorrateiro surgindo brusca e inesperadamente, um outro cachorro só foi percebido pelo menino quando já tinha abocanhado o Lulu pelo pescoço. Levantou-o para o alto e o chacoalhou, agitou, chacoalhou, agitou, rosnou... ...
Mistura de ódio-rosnar do cachorro grande com doloridos gemidos do cachorro pequeno
Desespero no menino, pânico, pavor, o não saber o que fazer, o susto, paralização corporal, amolecimento das pernas semi-desfalecer, Lulululu- Lulululu!
Nãonãonãonãonão!
Acima, vindo da rua do armazém, uma voz de mulher, um grito uma ordem, interrompeu a fúria do cão policial ou pastor alemão.
Ele deixou o Lulu cair de sua boca e subiu pela trilha atendendo o chamado da dona. A dona, o menino reconheceu! Era a filha do Seo Fartin, alemão, um dos chefões da Ind. Melhoramentos.
Ela nem quis saber se seu cachorro havia machucado o cachorro do menino.
Assustado, chorando, o menino chorou mais quando com o Lulu no colo viu a gravidade do ferimento.
Profundo, faltando parte da carne do pescoço, até via-se o interior da garganta.
Naquele desespero, numa primeira experiência de desamparo, abandono, pareceu ao menino que ninguém mais existia no mundo, só ele e o Lulu, naquele salgado escorrer de lagrimas.
Naquele acariciar amiguinho no colo, um forte remorso identificou-se ao menino, torturando por não ter conseguido proteger o mais fiel amigo.
Angustia também se fez presente pelo receio do cachorro morrer antes do menino retornar para casa com as compras do armazém.
A natureza esteve indiferente quando o cruel destino, provocou no imaturo menino, diversidades de fortes emoções em seus sentimentos ainda tão pueris.
Ele, num segredo infantil, por muitos dias criou contra o cachorro inimigo e sua dona, um sentimento que hoje, entendemos como... ódio.
Felizmente depois de muitos dias de curativos, o Lulu se recuperou e a alegria retornou pela continuidade de sua existência.
Cerca de oito ou dez anos se passaram.
Já moço, o menino mudou-se para o Bairro de Caieiras, ainda dentro do domínio territorial da Ind. Melhoramentos de Papel.
A partir de 1958, quando da emancipação da região, Caieiras continuou como do Município.
O Lulu adaptou-se bem naquela rua dos Coqueiros, onde, residia a irmã do menino de nossa historia (Anita Olimpio casada com Odécio Gardim).
Um dia quando Lulu já era “ancião”, ele fora encontrado estirado naquela rua, por cujos trilhos, ainda passava a “Maquininha” (trenzinho que transportava passageiros do Bairro de Caieiras para o Bairro da Fabrica).
Talvez tivesse sido atropelado por um caminhão, embora não apresentasse ferimentos externos.
Logo após, no “sepultamento” dele, que ocorreu no quintal da casa na Anita, uma duvida apareceu: estaria mesmo morto? Mas ainda estava quente!
Lá, presente naquele dia, a Leda, esposa do “Baltazar” (Gumercindo da Silva) irmã do Odécio e cunhada da Anita, disse que o Lulu estava morto sim porque sua língua estava toda enrolada. Será que estava morto mesmo?
Sei não!
A Anita parece que tinha um poder sobrenatural para atrair bichos.
No quintal daquela casa, em viveiro, havia serelepes (esquilinho), nambu, sabiá, e até traíras que ficavam no tanque de lavar roupas. Uma vez, uma delas mordeu-me um dedo quando fui lavar as mãos.
Nossa que p. susto!
Um belo dia que nem me lembro se choveu o dia todo, apareceu um cachorro de porte médio, amarelo-avermelhado.
Por lá veio visitando e acabou ficando.
Soube-se que ele pertencia ao sogro do Gatinho (Julio Decresci) que morava na Vila Barreiro. Quando já membro da nova família, um dia ele voltou muito ferido. Conclusão: foi-lhe amputada uma pata dianteira inteira que estava dependurada. O simpático cachorro amarelo, reduzido para três quartos no seu caminhar, parece que nem se importou com sua nova situação. O Odécio que era carpinteiro, nem se preocupou em fazer-lhe uma muleta.
E o cachorro, do qual não se sabia o nome, passou ser apelidado com o nome de um alemão que era chefe da Melhoramentos. Que sacanagem!
A monarquia insinuou-se naquela casa coma chegada da Princesa.
Uma cabrita bonita e amistosa que passou a ser o foco das atenções.
Tratada como filha, a Princesa circulava pela casa numa boa. Pelo corredor, quartos e sala. Na cozinha se mantinha mais, pela companhia que gostava com as pessoas da casa.
Um dia... quando a cabrita já havia sido promovida à cabra... ela sumiu!
Procura daqui procura dali e nada!
Princesa... Princesa...
De repente... um grito de pavor ecoou na Rua dos Coqueiros e veio da casa do vizinho. Princesa foi pega no flagra dormindo na cama do casal. Que sururu!
Naquela época, vizinho era o Zinho que casado com a Tutu e pai da Milena, eles moravam com os sogros, Roque e Maria Rita Camargo.
Princesa era só alegria até que resolveu impedir que continuasse solteira. O Odécio foi até o Bairro Cresciúma, que, perdeu este nome para ser Centro de Caieiras. Lá, de um dos membros da Família Berti, ele emprestou um noivo para a Princesa.
Era um bode raça, muito bonito e peludo. Caminhando lado a lado, o bode e o sogro chegaram e se reuniram com o restante da família, Anita e os Filhos Adriano e Cheila.
Foi um amor à primeira vista entre o bode e a Princesa.
Lá na Rua dos Coqueiros, a Lua de Mel transcorreu naquele quintal comprido que terminava a margem do Rio Juquery, isso entre muitos patos e galinhas e cantar de pássaros.
Logo, separação caprina aconteceu quando o Odécio o bode devolveu.
Princesa... que simpatia de animal!
Prenhe, seus filhotes estavam sendo aguardados. Quando chegou a ocasião, muita tristeza compareceu junto.
Um dos cabritinhos (eram três) estava atravessado, impedindo seu nascer e os dos outros. Foi assim que a Princesa morreu.
A presença dela, convém destacar, era muito agradável, engraçado.
Nessa ocasião, o menino do Lulu já era casado e já tinha filhos, que muito se divertiram com aquela cabra e foram fotografados ao lado dela.
E assim entre tristezas e alegrias, a vida continua.