Altino estou retribuindo sua maravilhosa carta, mas, só Deus sabe o sacrifício que estou enfrentando , jamais poderia imaginar chegar no momento que estou, a vista direita morreu para sempre com a entrada da diabete e estou quase cego também da vista esquerda. Só estou retribuindo sua belíssima carta porque sei que você não vai levar a mal as bobagens que estou lhe escrevendo. Tudo indica que esta será a última, vamos aguardar para ver o que acontece. Neste momento sinto uma tristeza sem limite no meu coração, para te falar a verdade confesso que estou me aproximando da reta final. Os problemas que estou enfrentando com minha pouca saúde posso dizer que é gravíssimo, já estou me aproximando da última viagem. Depois que minha esposa faleceu (a segunda) ainda fiquei na minha inesquecível Caieiras aproximadamente três anos, para te falar a verdade eu não tinha vontade de voltar para Recife, sou pernambucano, mas, eu deveria ter nascido em São Paulo, mas, como não temos o direito de escolher o lugar para nascer à cegonha me levou para Recife. Cheguei a viver aproximadamente 43 anos em Pernambuco. De uma hora para outra tomei a iniciativa de conhecer São Paulo, como eu tinha um amigo que morava em São Paulo, imediatamente tomei a iniciativa de viajar para Franco da Rocha, o lugar onde ele morava, bem pertinho de Caieiras. Como Deus ajuda a quem nele confia, em pouco tempo eu já estava trabalhando na Melhoramentos, no início enfrentei várias dificuldades. Tenho muito o que escrever, jamais eu poderia imaginar de chegar na situação que estou, ainda bem que tenho uma sobrinha que está me estendendo a mão, não deixa de ser desagradável quando chegamos na situação que estou. Meu irmão e minha cunhada estão viajando no mesmo barco que estou, só com uma diferença, o meu motor está com um problema que não tem cura (diabete), essa doença não se afasta do teu caminho, quando você menos espera, ela te dá uma ferroada e autoriza comprar o terno de madeira. Como a morte não avisa o dia de sua visita, continuo na esperança de viver um pouco mais, mesmo enfrentando uma situação complicadíssima não deixo de lutar. Confesso que já fiz o suficiente para merecer o que ela tem feito para mim, não estou atravessando como eu imaginava, mesmo assim já vivi onze anos com minha sobrinha. Eu poderia te escrever um pouco mais, infelizmente a pouca saúde não permite que isto aconteça, não repare a minha má caligrafia. Cada dia que passa mais vou sentindo a aproximação do último degrau, quando isto acontecer levarei saudade dos bons amigos de Caieiras. Com o coração cheio de saudade envio-te um forte abraço e que o ano novo seja de bons acontecimentos para todos da família.
Braga
José Costa Braga, com cerca de 86 anos de idade, muitos anos trabalhou na caldeira da fábrica da Ind. Melhoramentos e era muito conhecido. Homem honesto era apaixonado por Caieiras, dela não se esquece e tem muitas saudades dos amigos que aqui deixou. Se, com algumas correções, esta carta está agora sendo difundida é porque merece ser registrada nos anais da história desse município que, teve em seu meio alguém reconhecido pela felicidade que aqui desfrutou.
Altino Olympio