Cemitério de desconhecidos
Está gostando deste passeio no cemitério de Caieiras? Como viu, visitamos todos os recantos daqui. Tantos e tantos nomes nós lemos nas sepulturas e fotos de falecidos nós vimos também. Estamos aqui há horas, mais porque, estive discorrendo sobre quem eram esses falecidos, bem como, sobre seus parentes ainda vivos, sobre a ocupação profissional que exerceram enquanto vivos e as suas significâncias para este município. A maioria desses nomes nas lápides me é de conhecidos e eles foram estímulos para a minha memória ao recordar-me deles, de seus filhos e de fatos tristes ou alegres em que estiveram envolvidos. Neste local, desde longa data, seus habitantes em sua maioria nativos aqui eram todos conhecidos entre si e por isso se diziam ser uma grande família. Agora vamos embora, a tarde já está anunciando o anoitecer.
Vinte anos depois. Na administração pública...
--É, temos muito a modificar nesta cidade. Temos ruas com nomes de pessoas. Devem ter sido de antigos moradores. Se perguntar para algumas pessoas desta região, elas não saberão informar quem foram essas pessoas cujos nomes denominam as ruas. Talvez devêssemos substituir os nomes dessas ruas.
--Bem pensado. Nós não temos as nossas raízes aqui e como o povo antigo já quase todo desaparecido nunca se importou com suas memórias, por que nós vamos nos importar com isso? Estude se essa possibilidade pode ser legal.
--Outra coisa! Lá no cemitério muitos túmulos contêm nomes desconhecidos para a maioria desta cidade. Parece que nem mais são visitados por parentes, talvez porque, também devem ter morrido. Bem que poderíamos nos apropriar desses túmulos, para assim, criarmos mais vagas para outros a necessitarem.
--Mas isso será difícil se eles são túmulos perpétuos. Como faríamos isso?
--Estou pensando... Nossos advogados poderiam pesquisar e nos informar. Olha, seja como for não penso que isso iria provocar contestações. Nesta cidade quase ninguém mais se conhece. E como não se conhecem não vão se unir e, nem provocariam falatórios contra nós.
--Nisso você tem razão. Você sabe que os descendentes dos antigos desta região, agora menos netos e mais bisnetos, eles não conhecem as histórias de seus antepassados? Nem eles têm as suas histórias para contar. Às vezes deles se ouve o falar de uma fábrica de papel que fez história como também daqueles fornos de cal lá daquele lugar onde se chamava Monjolinho. Parece ser só isso a existir nas lembranças deles.
--É verdade sim. Como parecem, os antigos devem ter existido à toa como se não tivessem existido. A grande família se desfez, sumiu, desapareceu (risos).
--Bom, já está na hora de irmos pra casa. Mas, como nós estamos por aqui sempre é bom lembrar-se disto: “Em terra de cegos quem tem um olho é rei”.
--Que está querendo dizer com isso?
--Nada, é só uma brincadeira (risos).
Altino Olympio