Quase sempre o pensamento me faz retornar ao lugar onde nasci e vivi. Foi no Bairro da Fábrica da Indústria Melhoramentos de Papel de Caieiras. Local para compras só existia o armazém da indústria. Garoto ainda, quase sempre era eu a vítima para ir às compras. Isso muito me irritava porque sempre tinha que interromper alguma brincadeira ou o jogo de futebol de rua com bola de meia. Antes de adentrar ao armazém era impossível evitar a visão do velho abacateiro que ficava defronte fazendo sombra. Ao entrar logo se via os caixeiros aos seus postos por trás do balcão para atenderem os fregueses. Se bem me lembro, o primeiro da esquerda era o Nestor Lisa, depois o Kique, depois o Pierim, depois o Lázaro Roque e o último à direita era o Senhor Elpideo. O pior dia para as compras era aos sábados, quando mais pessoas compareciam e se acumulavam no armazém. O esperar a vez para ser atendido era um suplício. Ficava-se vendo e ouvindo quem havia chegado primeiro ser atendido e falando para o caixeiro o que queria comprar. Momentos de tortura! Ficava-se olhando para os movimentos do caixeiro e para os movimentos do ponteiro da balança ao pesar quilos de arroz, feijão, batata, açúcar, bolacha Maria e etc. Quando o caixeiro se ausentava por um tempo interminável era porque ele tinha ido encher um litro de “óleo de litro” de cozinha que o freguês havia pedido. Que raiva! Tudo se repetia quando era a vez de outra pessoa. Pior quando ela portava uma lista enorme de “coisas” para comprar. Sabia que ela ia demorar a ser atendida e por isso, às vezes, eu xingava a mãe dela mesmo sem conhecê-la. Como estava “dizendo”, tudo se repetia. Era ouvir os pedidos de compras, era olhar para o caixeiro, era olhar para ele colocando algo num saquinho de papel até o ponteiro da balança se mover até um quilo ou dois ou mais. Era o tempo de tudo pesar na “cara do freguês”. O caixeiro depois de pesar ou embrulhar cada produto, ele o escrevia num bloco de papel de pedidos com o preço a pagar. Original e mais uma cópia pela magia do papel carbono. Foram vários anos desse espetáculo de olhar para a balança, olhar de perto para o caixeiro indo pra cá e pra lá buscando e pesando produtos. Nem casais de namorados apaixonados se olhavam tanto assim. Mas, lá no armazém enquanto se esperava ser atendido, aquilo era pior do que ir a um casamento tendo missa antes dele, conforme alguns reclamavam. Muito tempo passou e como se sabe, o progresso não para. Algum gênio (só pode ter sido) teve a idéia de fornecer para o comércio, produtos já embalados e pesados. Tal gênio deveria ter sido agraciado com o prêmio Nobel de Tecnologia. Agora não mais é preciso ficar olhando para o ponteiro da balança e nem para um caixeiro com um lápis preso na orelha como eu via antigamente. O de agora “cada um se servir” é bem melhor daquele “um para servir outros” que muito demorava e muito irritava (risos). Ah, por falar em “caixeiro” faz tempo que não ouço esse nome e com certeza, hoje, muitos nem sabem o que é ou era. Talvez até possam pensar que caixeiro seja fabricante de caixas (risos).