Num sábado sem vento à tarde, com o sol além do seu zênite e mata cor cinzenta, coberta pelo pó de cimento vindo pelo ar, proveniente duma fábrica do vizinho bairro de Perus para o bairro da fábrica, da então Cia Melhoramentos, reinava o silencio naquele meu mundo parado. Dirigi-me ao armazém vislumbrei em seus postos, os caixeiros Nestor Lisa, Lázaro Roque, o Kike , o Perim e o Sr. Elpídio.Garoto gago e tímido que eu era evitava ser atendido pelo Nestor Lisa e pelo Sr.Elpídio porque suas impaciências para comigo eram indisfarçáveis, principalmente pelos finais dos expedientes aos sábados.O cheirinho do sabonete “lever” e o frescor da pele das mocinhas revelavam que elas já haviam se banhado. No bar do armazém, lá onde esparramado no balcão, o primeiro gole de pinga era para o santo, um cachorro levantou uma pata traseira e umedeceu um pedaço do balcão de madeira, aquele movimento da pata desviou a mira daquele esguicho canino, que sempre fica apontado para o queixo do animal, compensando um descuido da natureza.No conluio amoroso entre dois deles, as mocinhas banhadas de sábado, sempre distraídas nessas ocasiões, ficavam surpreendidas diante das reações dos caixeiros contra os cães grudados. “PASSA!PASSA!FORA!SAI!SAI!” Ás escondido do gerente, o Sr. Genésio, as batatadas nos cachorros atores do sexo explícito, era certeiras.Aguardando para ser atendido e fazer as compras que minha mãe queria, ouvi uma conversa entre o caixeiro Perim e a filha do Sr. Faltim que me surpreendeu, foi assim: “Tem bolacha para gato?” – Não respondeu o Perim, só temos bolachas Maizena e Maria – a filha do Sr.Faltim respondeu de pronto “é essa mesma, bolacha Maria, bolacha para gato, quero um quilo”. Eu, depois de ter pagado no caixa as compras, a Beatriz Silveira era a funcionária, saí do armazém meio consternado e alterado, só conseguia balbuciar: miau,miau,miau. Gozado, só naquele dia fiquei sabendo que além do Gato Renato Molinari (hoje saudoso) todos nós comíamos bolacha marca Maria, especiais para os gatos do Sr. Faltim e até hoje quando como uma bolacha, fico por horas miando, miau,miau,miau.