Nos Bairros da Fábrica de Papel de Caieiras sempre existiram veados. Esse fato nunca foi novidade. Eles se ocultavam e às vezes eram vistos nas matas da Cia Melhoramentos. Eram pais, irmãos e todos eles veados. Nos clubes aqueles veados não se aproximavam porque os associados presentes iriam segui-los pela mata com a intenção de comê-los. Existiam sim pessoas que gostavam de comer veados.
Entretanto, existiu um homem de um veado só. Seu nome, Oswaldo Casarotto. Era filho de minha tia Sinha, irmã de minha mãe e, ela era viúva do Senhor Gigeto Casarotto, e, portanto, o Oswaldo era meu primo. Ele era do Bairro do Monjolinho e quem também era de lá deverá se lembrar dele e do veado dele. Não se sabe como ele conseguiu caçar e aprisionar um veadinho. Ele morava na ruazinha sem nome e principal do Monjolinho que começando lá nos ainda existentes fornos de cal e naquele pequeno lago ao lado do “largo do armazém do Monjolinho”, a ruazinha de terra em aclive ia terminar na Vila do Sobradinho.
Naquele lugar a fileira era de casas, umas grudadas as outras pareciam ser casas de colonos de uma fazenda. Eram de um só dos lados da rua que terminava ali formando um espaço onde seus moradores promoviam suas festas juninas ou de confraternização. Vários daqueles moradores ainda permanecem na lembrança e são eles: Iracema Turbuchi, sua filha e o filho Claudio, Moacir de Oliveira e família. A filha de mais idade certa vez ao fechar a janela que ficava nos fundos da casa e onde era o quintal, ela foi picada por uma cobra jararaca que estava num daqueles trincos fincados na parede para manter a janela aberta impedindo o vento de fechá-la. Lá morou também a família Viana tendo três dos filhos que recordo os nomes, Waldemar, Rosa e Lidia. Outros moradores, Aurélio e Zulmira Camargo e seus filhos, o Nide, a Edi, a Neusa e o Dito.
Também morou lá o Orlando Del Lago, esposa, a filha Izilda, e a Clair. O Leonel Cunha, esposa e filhos, a Dona Leonor com seu marido Albino e a filha Terezinha. Ela servia café nos departamentos da Cia Melhoramentos lá no Bairro da Fábrica. Lá também morou o Roque e sua numerosa família. Ele com o Albino marido da Leonor trabalhavam na casa do Senhor Raimann que ficava lá mesmo na Vila Sobradinho, mas, aquela casa do Raimann já podia mesmo ser chamada de “mansão”, pois, até quadra de tênis havia lá e um grande pomar.
Claro, era a casa de um dos diretores da Cia local. O Raimann tinha dois filhos, o Gunter ou Gunther e o outro de nome Eca, ou Heca, ou Eka, cueca, sei lá como se escreve certo o nome do rapaz. Pra finalizar, no Sobradinho morou também o Bruno Prando e sua esposa Judith e com eles o Dionísio Prando, a esposa Geralda Fava e os filhos Osmar e Monica. Conta-se que a Judith Maria Pia, esposa do Senhor Bruno, quando esteve para viajar da Itália para o Brasil ela “perdeu” o embarque do navio e teve que aguardar o próximo. Sorte dela, ou “coisa” do destino. Aquele navio em que ela não embarcou, ele afundou e todos os passageiros morreram.
Entretanto, vamos agora voltar ao veado do meu primo. Lá do outro lado da rua onde ele morava com sua irmã Odila e sua mãe Sinha, esta, do outro lado da rua tinha uma horta bem cuidada ladeando um riacho que por lá passava. Foi lá no início da horta que o Oswaldo manteve o veado recluso num abrigo pequeno onde o coitado mal cabia quando grande. Sim, o veado cresceu até se tornar “adulto” num lugar muito restrito para ele, prejudicando-lhe assim os seus movimentos, os pertinentes aos animais livres vivendo pelas matas de qualquer região. Mesmo diante do desagrado de várias pessoas da região, o animal foi mantido em cativeiro e como resultado disso o veado morreu.
Várias vezes quando garoto ainda e visitando minha tia Sinha lá no Monjolinho, eu o vi encurralado, grande e bonito e depois, a notícia de sua morte me entristeceu. Foi toda uma vida infeliz até o fim de um veado. Nesta época quando todas as casas pertencentes à Indústria Melhoramentos foram demolidas e as matas avançaram para os espaços donde elas estavam, com certeza, os veados de Caieiras devem ter se multiplicado e vivendo livres sem serem importunados.
Altino Olympio