No final da década de 60, nós adolescentes do bairro de Cresciuma em Caieiras curtíamos os finais de semana de forma bastante peculiar. A cidade não oferecia grandes oportunidades de lazer ou diversão e desta forma, nos contentávamos com que o que existia, sem grandes lamentações. De tempo em tempo algum circo se instalava aqui. Outras vezes um parque de diversão. Por um tempo curto usufruímos de um cinema localizado na Rua Domingos do Carmo Leite onde, todo domingo, à tarde, nos encontrávamos não unicamente para assistir aos filmes, mas, principalmente, para encontrar a turma e os amigos da época. Lembro, no entanto que, por iniciativa de alguém da comunidade católica da Igreja Santo Antônio, foi fundado um estabelecimento, com o nome de “O Clubinho”. Um clube diferente, só para os adolescentes. Não havia bebidas, não se vendia cigarros e nada que pudesse corromper aqueles jovens apenas ávidos de diversão. O Clubinho na verdade foi apenas um local de encontro de jovens católicos. Funcionava no Salão Paroquial da Igreja e todos os domingos, a partir das 15 horas, nos acolhia para encontros extremamente amigáveis e saudáveis. Havia música é claro. Numa vitrola antiga pudemos ouvir e nos divertir ao som de canções da jovem guarda. Ali, também, sempre ouvíamos alguém ao violão tentando mostrar um talento musical .Ali paqueramos e trocamos os primeiros olhares apaixonados. Ali muito se chorou por um amor não correspondido.
Íamos ao Clubinho, devidamente paramentados, de roupa nova, sapatos engraxados e cabelos devidamente penteados. Era um evento importante onde, encontrávamos os amigos já conhecidos da escola ou das ruas adjacentes. Ali, conversávamos sobre os mais diversos assuntos do momento, trocávamos ideias sobre planos e dividíamos todos os sonhos ainda imaturos.
Das 15 às 18 horas, nos distraíamos na tranquilidade daquele lugar extremamente familiar. Não imaginávamos a violência e ignorávamos a criminalidade. Talvez porque, naqueles anos dourados isto não fosse constante e muito menos tão aviltante. Não pensávamos em drogas, nem no sexo inconsequente e muito menos em fatalidades. Sonhávamos na verdade com o beijo furtado e com o rosto colado ao dançar “F come Femme”. Sonhávamos com o romantismo ditado nas músicas de Roberto Carlos e com as aventuras inocentes propostas no som da guitarra de Elvis Presley. No Clubinho tivemos encontros. No Clubinho fizemos grupos, parcerias e as gangues, foram unicamente de paz para se compartilhar fantasias e dividir alegrias daquelas jovens tardes de domingo. Não varávamos a noite e nem nos expúnhamos às madrugadas. Contentávamos com o limite dos horários impostos pelos adultos. Fomos estimulados por sons educados, por melodias amenas. Dançamos sob a claridade do sol e jamais propusemos guerras. Vivemos o amor, o companheirismo e tivemos as mais belas tardes de domingos regadas pela alegria de um mundo ainda cheio de ilusões. Nossos pais também usufruíram desta felicidade e sempre tiveram uma certeza: de que voltaríamos para casa, sãos, salvos e imensamente felizes. O oposto de hoje e deste domingo, 27.01.13, onde dor, luto e tristeza marcaram cruelmente a vida das famílias e amigos das vítimas do incêndio na boate Kiss, em Santa Maria - Rio Grande do Sul.
Sem comentários! Só posso lamentar, chorar junto por tamanha tragédia e mais uma vez, sentir saudades daqueles velhos tempos, daqueles belos dias e daquelas jovens tardes de domingo no Clubinho em Caieiras.
FATIMA CHIATI
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