Ao me deitar e fechar os olhos neste dia de sol, imagens surgiram na mente. Andorinhas e mais andorinhas lado a lado enfileiradas num fio de energia elétrica entre um poste e outro. Isso, defronte a casa onde nasci no Bairro da Fábrica de Papel de Caieiras. Elas parecem significar a calmaria de dias abençoados. O sol está forte e sua claridade permite ver as matas imóveis pela ausência dos ventos. O calor é propício para se ouvir os cantos das cigarras a festejarem o verão. Considerados os pássaros mais comuns, os pardais de árvore em árvore revoam numa parecida algazarra. Ainda quando sentado na escada com meu cachorro Lulu, preto com um filete branco do pescoço ao peito e eu perdido em pensamentos e apreciando a natureza, admirando um beija-flor rodeando a roseira e ouvindo alguns zumbidos de abelhas proveniente das pequenas flores, minha mãe pediu-me para ir ao armazém. É só abrir o portão e o Lulu vai comigo. É sábado um tanto monótono e sinto uma melancolia querendo se estabelecer e não devo permitir. A caminho do armazém estou passando ao lado do campinho de futebol da Vila Pereira. Sempre tem jogo de futebol de vila contra vila e no mais das vezes com bola de meia. Uma contrariedade veio a me dizer que eu também deveria estar lá participando do jogo. Por que será que às vezes eu preferia ficar só entretido apenas nos meus pensamentos? Ah o armazém! Aos sábados mais pessoas o freqüentam e se demora mais para ser atendido. O consolo é ter a oportunidade de apreciar as mocinhas do lugar nas suas compras tendo como sorte de ver também aquela dona dos meus pensamentos. Quando ela estava no armazém à demora ao ser atendido pelos “caixeiros” era muito desejada. Entre as moças e rapazes deste local se sabia de quem gostava de quem, quem “tirava linha” com quem. Mas, nem sempre. Existia quem gostava de alguém e não revelava para ninguém. Ao sair do armazém, logo à direita e do outro lado da rua se avistava o frondoso abacateiro. Eram visitados pelos pássaros sanhaços e na época do surgimento deles, eles vinham acompanhados por outros pássaros de nome “tesouras”. Isso porque, digamos, suas caudas eram separadas em duas tendo o formato parecido com uma tesoura. O velho abacateiro... Quantas e quantas pessoas daqui passaram e passam por ele. Ele continua presente nas lembranças como a ser o passar por ele daqueles muitos de nossa convivência que nos deixaram. Agora outras imagens estão se formando na minha mente. Estou vendo, estou vendo! A Vera Lucia de Freitas e o Carlos Alberto de Moraes. Ela, irmã da Vilma e do Toninho De Pádua e ele irmão da Elza e do Roberto de Moraes. Eles estão sob o velho abacateiro conversando. Ai tem coisa! Deve ser mais do que só amizade. Percebe-se muito carinho entre eles e até parece que estão desenhando um coração no tronco do velho abacateiro. Parece que estão sendo vítimas do cupido ou estarei enganado? Sem saber eles estão traçando lembranças das quais nunca se esquecerão. Aqui nesta terrinha os romances eram romances, os namoros eram namoros, os apaixonados eram apaixonados, os casamentos eram casamentos. Ainda estou vendo a Vera e o Carlos Alberto na sombra do abacateiro. Será que imaginam como será o destino deles? Não importa. Estão na profundidade das sensibilidades e carinhos mútuos e eu fiquei com inveja. Nunca conversei com aquela dos meus sonhos sob o velho abacateiro. “Pai! Telefone pra você” “Que? Ah já vou atender. Quem será que está a interromper meus pensamentos?”
Altino Olympio
Comentários:
Ola, Altino
Bonita crônica! Me transportei para o Campinho em frente a casa do Hilario e pude rever na memória tantos companheiros. O campinho não era nivelado e tinha uma "descaída". Assim, o time que ficava no gol mais baixo tinha mais dificuldade de vencer...
Voce falou sobre a Vera Lucia de Freitas, ela foi minha colega no Grupo e gostaria de saber se ela está bem e por onde anda.
Abraço Gilberto Lisa