Recordar é viver ou recordar é sofrer? Talvez recordar seja buscar na mente imagens do passado que comparadas com as imagens do presente, as do passado pareçam não ter existido e apenas terem sido belos sonhos. Hoje quase não vemos crianças pelas ruas nos seus folguedos. Antigamente elas ocupavam as ruas com seus brinquedos e seus alaridos ecoavam pelas imediações como sendo música para os adultos. Eram consideradas crianças até ao completarem quatorze anos, idade esta considerada propícia para se iniciarem no trabalho formal. Hoje, muitos dos brinquedos de outrora permanecem esquecidos. Crianças desta época nem imaginam que tais brinquedos existiram nem mesmo a liberdade que as crianças tinham de brincar com outras. Das “coisas que não voltam mais” minha memória reteve muito dos divertimentos daqueles tempos “inesquecíveis” esquecidos. Juntos, meninos e meninas se divertiam em pular corda, brincar de piques, queimado, amarelinha, cirandinha, rodar iô-iô, bater peteca, pula na mula, escravos de Jó, cabra cega, bolinha de sabão e etc. Mais para os meninos, futebol de rua com bola de meia. Jogo de taco ou de derrubar casinha, empinar papagaio no morro, construir cabana no mato, rodar pião, rodar arco ou pneu pelas ruas, jogo de malha, caxeta, jogo de botão, bolinha de gude, carrinho humano, jogo com figurinhas (jogar bafo), carrinho de quatro rodas fabricados em casa como também cata ou papa–vento. Possuir estilingue era comum entre os meninos. Nadar na lagoa, catar pinhão, frutos do mato e também as malvadezas faziam parte daqueles tempos de total integridade com a natureza. Explicar como eram aqueles brinquedos ocuparia muito espaço aqui. Tirava-se o “par ou ímpar” para se saber quem iria começar um jogo ou uma brincadeira e às vezes era assim: Alguém falava par e outro respondia “eu cago e você põe sar”, ou então, depois de um ímpar outro respondia “eu cago e você limpa” (risos). Era mesmo tudo na farra. Até antes dos quatorze anos, comum eram o meninos andarem descalços, inclusive ao irem pra escola onde, de fato, existia mesmo o aprendizado escolar.
Crianças daqueles tempos não ficavam doentes e doenças até pareciam que não existiam. Claro está que estas reminiscências são lá do extinto Bairro da Fábrica de Papel desta Caieiras onde nasci e me criei. O local parecia um mundo separado do mundo. Crianças se contatavam com crianças e seus pais não tinham com o que se preocupar. Quem no passado teve mesmo a felicidade de ter sido criança como criança deveria ser, talvez, se ressinta ao notar que seus filhos e netos não estão sendo crianças como deveriam ser. Às vezes me parece que homens que não foram crianças não sejam homens para o humano viver entre os homens. Falta-lhes aquela reciprocidade aprendida quando crianças entre as crianças. Voltando ao passado, lá sim éramos pegos de calça curta (risos) brincando nos balanços com as meninas tão atraentes com suas tranças nos cabelos.
Altino Olimpio