Família Maderick
Têm quem chama pejorativamente de saudosistas outros porque eles vivem recordando seus passados. Mas como evitar se em sonhos ou através de algum estímulo momentâneo o passado ressurge na mente incluído de emoções? Nesta vez sou menino outra vez de calça curta ainda ignorante do que precisava aprender. Minha mãe disse pra eu ir ao catecismo como outras crianças iam também. Catecismo? Que seria isso? Lá no alto onde ficava a igreja que, só bem depois soube que se chamava Capela de São José era onde o catecismo era ensinado. Membros de uma família local com esmero cuidavam da capela e também ministravam os ensinos religiosos. Eram eles a Dona Alice, seu marido e os filhos Miguel, João, Catarina, Maria, Izabel e a Julia (Julinha) e mais da época do Padre Achiles são estas lembranças. Gostaria tanto de rever os rostos das meninas e dos meninos comigo a aprender o catecismo, mas, a memória às vezes me priva de alegrias existidas. Pelo decorrer do aprendizado em questão acrescendo-se de emoção, entre nós alunos era um repique o carinho que fluía para a família Maderick. Bem instruídos que fomos ao ensino, recordar é como ouvir badalar de sinos. Chegou o dia da primeira comunhão lá na Igreja Nossa Senhora do Rosário e tudo transcorreu perfeito num cenário onde o sentimento queria sair do peito. Depois a agradar tivemos uma festa comemorativa adoçando o nosso paladar. No páteo da igreja um racha (futebol) aconteceu e o que ficou na estima foi ver o Padre Achiles jogando bola entre as crianças trajando batina. Anos se passaram com o Padre Achiles já ausente de Caieiras e num feriado de sete de setembro, eu e a então ainda minha noiva estávamos presentes na Praça da Sé repleta de militares para uma missa dedicada a eles, quando uma surpresa esteve a agradar. O Padre Achiles passou por nós todo imponente com sua farda de capelão do exército. Foi a última vez que o vi. Para os daqui resta dele uma rua com seu nome. O pitoresco daquele dia foi quando se ouviu a ordem “à vontade” para os soldados. Nisso, todos levantaram seus pés e os bateram no chão. Esse gesto e barulho sincronizado como foi fez-me lembrar de um tropel de cavalos. Minha noiva parecendo ler meu pensamento me olhou e ambos caímos na gargalhada e não conseguíamos mais parar. Eu falava “para, para, chega, senão podemos ser presos por esses soldados daqui da nossa frente”, mas, que nada, mais ríamos ainda. Agora voltando à família dos Madericks, como outros deste lugar, sabemos que vários deles já partiram, contudo, eles convivem ainda na memória a ser parte de nossa história.
“As lembranças me chegam sempre em noites tão vazias e mexem tanto com minha cabeça e quando o sono chega o dia já nasceu. A distância...”
Altino Olympio