Andando recentemente por Caieiras observei o quanto ela se modificou nos últimos 45 anos.
Em 1.965, morando na Rua 4 ( hoje Guadalajara), a população contava com um número restrito de comerciantes. Não havia clínicas, consultórios, escritórios e lojas como hoje. O que existia foi tão marcante que fará parte da história da cidade. Existiram os pioneiros em atividades pouco exploradas numa época de dinheiro curto. Com eles um comércio batizado com o mesmo nome do proprietário: A Cooperativa dos Furlanetto, a Coap dos irmãos Menegatti, a Farmácia do René, o Bar do Risca-faca lá no início da Av. Presidente Kennedy, o Bazar da Lurdinha, a Quitanda da Dona Iolanda na Praça Santo Antonio, a Loja da Angelina, o Cartório de Notas do Zizo, o Consultório Dentário do Dr. Helio Ricciarelli, o Sapateiro Laszlo na Ambrosina do Carmo, a Loja de móveis do Didi e a famosa Loja da Foncina ( cujo nome era Loja Vitorio). É dela que vou contar alguns detalhes interessantes .
A loja ficava na Av.14 de Dezembro, ao lado da linda casa de seus donos ( Dona Afonsina e Sr. Vitório Schirmanoff) e tinha até uma interessante comunicação interna que, possivelmente, facilitava a vida daquele casal na administração do lar. Era muito grande, com o chão de cerâmica vermelha sempre muito bem encerada, balcões belíssimos de madeira escura, prateleiras fortes, vitrines e gaveteiros de boa qualidade. Vivia repleta de mercadorias e produtos de boas marcas. Ali se forrava botões e se vendia armarinho, papelaria, tecidos finos, roupas de cama, mesa e banho, utilidades domésticas, brinquedos, presentes para casamento, louças, sabonetes, lenços e muito mais. Tudo naquela loja, estava sempre muito bem organizado e limpo, suprindo em muito as necessidades dos moradores de Caieiras, com uma oferta incrível de produtos. Era um verdadeiro Shopping Center na década de 60 e 70.
Dezenas de vezes eu saí de casa, para ir àquele local deslumbrante e sempre cheio de coisas bonitas. Minha madrinha como costureira sempre me mandava lá para buscar suas linhas, botões, elásticos e colchetes.
Lembro-me perfeitamente dos balcões polidos de madeira maciça. Lembro-me das gavetinhas, das vitrines cheias de rendas, fitas coloridas, zíperes e botões dos mais variados tamanhos, colados em cartelas aderentes. Lembro-me da gaveta de retroses e carreteis com linhas de algodão da marca Corrente, dos novelos de lã nas prateleiras mais altas, das peças de renda e laise caprichosamente empilhadas em ziguezague, dos cobertores peludos em caixas de papelão e finalmente...Dos brinquedos, nosso maior sonho de consumo na época. Brinquedos com som, de vinil, com corda, panelinhas, bolas, carrinhos, trens de apito, bicicletas, bambolês, jogos, bonecas que beijavam, falavam, e choravam. Enfim... Tudo... Tudo que, sempre encantava nossos olhos e que provocava nossa cobiça.
Éramos crianças entre 08 e 10 anos, famintas de novidades e surpresas. Por isso, entrar na Loja da Foncina era muito compensador. Ali, podíamos sentir a doce sensação do sonho realizado, mesmo que por rápidos instantes ou por roubados toques de curiosidade.
A Dona Foncina contudo, nunca deu trégua à criançada . Ficava de olho, atenta, sempre nos vigiando pela parte superior dos óculos e nos proibindo de mexer nos objetos mais frágeis.
Algumas vezes levei bronca dela. Esquecia-me do que tinha ido comprar. Sabia que era um carretel de linha. Mas que linha? Havia uma infinidade delas!
Ela então, muito firme, me fazia voltar em casa onde então, levava outra bronca. Mas, retornava à Loja, para minha felicidade. Só que, desta vez, com uma amostra da linha ,um bilhetinho bem dobrado numa das mãos e dinheiro contado na outra.
A loja, por décadas, foi um grande centro comercial e um grande ponto de encontro de moradores amigos caieirenses.
Mas, o tempo também foi passando e mudando costumes. A modernidade trouxe outras necessidades e novos estabelecimentos. Hoje, lojas de grandes redes dominam nossa cidade. Locais ocupados por comerciantes amigos, éticos e solidários foram cedidos a um novo conceito de negócios. Já não existe o mesmo acolhimento de outrora. Já não existe a mesma interação amigável e pouco importa o contato afável que no passado se sobrepunha a qualquer interesse comercial.
Hoje, no mesmo local daquela loja funciona uma farmácia, o que me fez sentir saudades de uma época em que a impecável Loja da Foncina contribuiu para o destaque e crescimento de Caieiras. Época em que a loja daquela mulher, extremamente batalhadora, fez brilhar meu olhos e encheu minha infância de muitas alegrias.
FATIMA CHIATI