Futebol ou amendoim?
Todos os domingos a cidadezinha ficava quieta, em silêncio e no tédio para quem não ia ao clube assistir o futebol. No Bairro do Monjolinho o futebol era no Brasil Futebol Clube, no Bairro da Fábrica ele era no Clube Recreativo Melhoramentos e onde Caieiras era mais conhecida por esse nome, o futebol era no União Recreativo Melhoramentos. Além do futebol os clubes eram locais para flertes entre os jovens a terminar em casamentos. Havia uma atração à parte. Amendoim salgadinho e amendoim com casca, assim, como se falava. Com casca e transportados num saco eram vendidos pelo Pato (Milton de Cristo e ele não gostava desse apelido) que morava na Rua dos Coqueiros. Os debulhados e salgados eram vendidos pelos irmãos Alves. Estes moravam na primeira casa da esquerda da Vila Leão. Três dos irmãos eram o Mario, a Laura e o Edgar Alves. Se não há engano, a Laura namorou com o Corvo (Jair Euzébio) irmão da Yeda e do Tucho (Dirceu Euzébio). O Jair era do Monjolinho e a caminho da Vila Leão ele passava pela minha casa. O Mario depois de cerca de cinquenta anos sem vê-lo, eu o vi e conversamos no velório do Zé Polatto. Quanto ao Milton, como eu, ele é morador de Perus e às vezes o vejo pelas ruas do bairro. Ele, quando vinha ao clube sempre estava com o saco cheio e lá pelo fim do futebol seu saco já estava aliviado de amendoins. Ele percorria todas as adjacências ao redor do campo de futebol, principalmente pela arquibancada, onde, sentadas, as pessoas consumiam os amendoins e suas cascas ficavam espalhadas pelo chão gritando cleck-cleck ao serem pisadas. Os irmãos Alves eu os lembro mais na arquibancada onde degustar seus amendoins salgados eram mesmo uma delícia. Depois provocavam sede e naquele calor de sol quente chegava o Senhor Afonso, pai do Sucuri (Eduardo Pinto Cunha) com seu carrinho ou carriola contendo sorvetes de palito produzidos pelo Senhor Alfredo Satrapa e... Opa, não eram sorvetes de palito. Eram de coco, de groselha e outros sabores com um palito introduzido neles. Logo se esgotavam devido ao gostar de chupar daquela moçada presente ao clube. O sol ia ficando tímido quando terminava o jogo de futebol. Famílias, crianças, moças e rapazes voltavam para suas casas e uma melancolia vinda não se sabia de onde pairava sobre todos. Aposentados não existiam, pois, nenhum era visto no clube. Depois de terem se alimentado em suas casas, muitos à noite voltavam para o clube. Poderia ter um cineminha, ou melhor, um bailinho ao som de músicas de vitrola derivado de discos de setenta e oito rotações por minuto. Não tendo cinema ou baile o clube ficava sem graça sem a presença feminina. Alguns se distraiam assistindo a televisão, vez ou outra reclamando do barulho de quem estava jogando ping-pong. Outros ficavam jogando snooker, outros no jogo de baralho e no bar sempre se via alguns bebericando e jogando conversa fora. Nas segundas-feiras em todos os departamentos da Cia. Melhoramentos a fofoca corria a solta. Era sobre os lances do futebol, era sobre quem foi visto com quem, era sobre a filha de alguém vista se beijando com alguém, era sobre aquela gostosa filha do fulano e era também sobre outros fatos mais, ocorridos no domingo. Nestes tempos não tendo mais onde se reunirem, ou, por não quererem, não poucos daquele passado estão agora a navegar nessa tal de internet. Parecem bobos a enviar ou transpassar mensagens (é, inclusive) entre si para afugentar suas solidões indisfarçadas (risos).