Lá do alto da pedreira
Que, destruída não está mais lá
Via-se o morro do Tico-Tico
E o pico do Jaraguá
Descendo-se em mata densa
Via-se de repente
Muitas casas, uma fábrica
Um rio e muita gente
Passando a ladeira do filtro
Ali, a rua do Pioneiro
No fim a Dona Gija, a parteira
No começo a Caetano barbeiro
À esquerda um morro alto
Mais alto que o Chaminé
Um cruzeiro iluminado
É a igreja de São José
Em frente uma mata verde
Tremulava com os ventos
Escondia em suas sombras
O clube Melhoramentos
Ali descia uma escadaria
Parecia até um trapézio
Passando pela pensão
Ia até a venda do Genésio
Ali a chegada do trenzinho
A turma descia em massa
Iam na venda do Genésio
Pra tomar uma cachaça
Era uma praça simples
Ali era o nosso quartel
Ali saía nosso sustento
Ali era a fábrica de papel
Quando a fábrica apitava
Na velha rua da calçada
A mocidade esperava
Pra subir com a namorada
Na guarita da Cerâmica
Tinha a história do trenzinho
Um que ia pra fábrica
Outro pro Monjolinho
De madrugada ainda escura
Às vezes mesmo sem luz
Quem comandava o tráfego
Era o José Sávio e o Antônio Cruz
O Vitório e o Barriquelo
Vinham lá do Horto
Se juntar com os colegas
Basílio, Arthur e Mário Del Porto
As máquinas eram alugadas
Começavam a trafegar
Com carga pro todo lado
E gente pra trabalhar
Um trenzinho carregado
Lá chegando na estação
Maquinista o Aristides
E brequista o Gamelão
Outro trem já carregado
Pronto pra queimar o chão
Com Adelino Serigate
E o brequista Maranhão
Um trenzinho que chegava
Tocando o sino de bronze
Era o Basílio que anunciava
Que chegava o trem das onze
Era um horário esperado
A turma esticava o pescoço
O trem que trazia as marmitas
Era hora do almoço
Na guarita trocou turma
Trenzinho pra lá e pra cá
Quem comandava o tráfego
O Marim e o Zapalá
O Gonçalo e o Pilizari
O Bonini e o Gardim
Paravam o seu trenzinho
Em frente à casa do Delfim
O Alberto Barriquelo
Era um brequista diferente
Se fossem brincar nos bondinhos
Ele sentava a cinta na gente
Uma seção organizada
Sobre a chefia do Massaia
O mecânico era o Bazegio
O ajudante o Maquinaia
Não sei se lembrei de todos
Que trabalharam no trenzinho
Mas eu quero destacar
Celso Russo, Amadeu, Vante Sávio e Jauzinho
Tudo isto se acabou
Nada tem que tinha antes
Onde era minha roça
Hoje passa a Bandeirantes
O progresso foi chegando
É coisa que não discuto
Sobre a casa que eu morava
Hoje passa um viaduto
Esta história é verdadeira
Por isso é preciso que eu conte
Se eu não mudasse de lá
Estaria em baixo da ponte
Para que tudo acabasse
Morreram os pioneiros
Mas resta como lembrança
A velha rua dos Coqueiros
Eu com profissão de papeleiro
Torcedor Melhoramentos
Uma vida entre amigos
Não tenho ressentimentos
Meu padroeiro São José
Nunca trouxe desenganos
Casei-me na igreja dele
Hoje faz cinqüenta anos
Esta história é contada no
período de 3 de julho de 1948
a 3 de julho de 1998