Sobre a Crônica : Paraiso Perdido.
Que história interessante! Parabéns Altino, pela magnífica pesquisa e relato.
Pelo que li sempre houveram descontentamentos e como hoje, funcionários sempre se consideraram explorados por patrões.
Mesmo a Melhoramentos, uma empresa tão protecionist e tão paternalista, deve ter cometido suas injustiças.
A verdade é que, eu particularmente, em casa sempre ouvi elogios à Industria de Papel que disponibilizou emprêgo, moradia, lazer e tantas outras coisas a seus funcionários. Numa época difícil, de mão de obra despreparada e de pouca escolaridade ela foi empreendedora. É lógico que não havia também outras alternativas.A Fábrica estava longe dos grandes centros, o acesso era difícil e seria impossível importar trabalhadores para uma região tão carente.
Acho que foi um toma lá, dá cá como diriam os mais antigos.
Meu pai foi pedreiro contratado , aposentou-se e saiu da Vila Leão comprando uma casa em Pirituba. Meu padrinho ainda na ativa, prestes a se aposentar, foi contemplado, num sorteio com uma dessas casas construidas na Rua Guadalajara.Na época foram feitas 20 casas, cinco na Rua Portugal.Felizmente após o sorteio em setembro de 1965, viemos para a Cresciúma. Um mês depois, ele falecia e minha madrinha teve que arcar com as prestações que eram pagas à Melhoramentos mensalmente por um período total de 7 anos. Na quitação ela ainda recebeu um residual de volta, que ninguém entendeu muito bem, mas que provavelmente resultou de alguma recálculo do financiamento.
Mais uma vez eu ouvi minha aquela mulher, agradecer a Empresa que lhe financiara aquela casa.Mais de mil vezes eu ouvi também dela que a Melhoramentos tinha sido a melhor coisa na vida dela e do marido.
Na época, eu achava um pouco de exagero, porque afinal meu padrinho trabalhou mais 40 anos e nada mais justo, que ser contemplado com uma casa que no final das contas não foi de graça.
Hoje, no entanto, entendo toda a gratidão que era dedicada à Melhoramentos.Minha madrinha,assim como eu e muitos, não usufruiram somente de moradia e emprêgo. Todo mundo foi recompensado de alguma forma.Mesmo que não se reconheça .
Todo mundo teve um paraiso pra viver, pra trabalhar, pra se divertir, pra criar filhos e sentir o verdadeiro espírito de comunidade.
Todo mundo teve um paraíso recheado de momentos inesquecíveis e que marcaram existências.
Se a greve foi justa, ninguém sabe.
Se a resposta à greve ,pela Melhoramentos, foi legal, ninguém sabe.
Sabe-se apenas que talvez ela tenha sido o marco de uma nova etapa que teria que ser iniciada, como novos posicionamentos, novas atitudes e novos perfis humanos.A política da Empresa mudaria e seus funcionários, obviamente, também.
Nesta mudança talvez necessária restou o maior prejuízo: O paraíso teria seu fim.
E para tristeza de todos que tanto amaram aquele lugar, resta-nos apenas recordar.
FATIMA CHIATI