Estação de outono. Os dias são mais curtos e convidativos para as lembranças. Algum estímulo na consciência desviou minha atenção sobre o que eu estava fazendo e meus olhos com a visão no presente e também desatento à ele, ficaram paralisados momentaneamente com as imagens ao derredor e fixos nelas quedaram-se vendo e revivendo o passado. Meus olhos transformando-se em pensamentos me transportaram para outro lugar do passado de minha existência de quando era jovem, de quando as indecisões e as ilusões da vida me eram mais persistentes. Estou na Estaçãozinha de Concreto onde, está a Portaria Dois de acesso de uma parte dos funcionários da Indústria Melhoramentos e onde eles picotam seus cartões de entrada e saída dos seus trabalhos. Aqui, o trenzinho, ou melhor, a maquininha estaciona com seus vagões de cor verde escuro, para a seguir, daqui do Bairro da Fábrica, retornar para o Bairro de Caieiras, onde volta a estacionar nas proximidades da Estação de Caieiras dos trens da Estrada de Ferro Santos à Jundiaí.
São quase dezessete horas e dez minutos, a hora da “máquina das cinco” partir. Seus vagões estão superlotados pelos funcionários, mais pelas moças que trabalham na “Sala de Escolha” e outros e outras dos escritórios que deixam seus trabalhos às dezessete horas para retornarem à suas moradias de outros bairros ou vilas de dentro ou de fora do território pertencente a Industria Melhoramentos de Papel, onde tudo se resume como sendo e tendo o nome de Caieiras. Tarde de outono propícia para lembranças. Estou aqui sentado num dos bancos de madeira, abaixo da cobertura de concreto, moderna, com linhas curvas ou convexas. Conheço toda essa gente que por mim passou para embarcar na maquininha. Alguns mais que os outros, pois, conheço seus avós, pais, irmãos, cônjuges, filhos, parentes, amigos, e se namoram ou não com alguém conhecido ou não. Tarde de outono, dezessete horas e dez minutos, apitou a pequena locomotiva e assim partiu a “maquina das cinco”. Segui-a com o olhar até seu último vagão desaparecer e se esconder por detrás do barranco à esquerda em curva e com o seu ranger de rodas nos trilhos Foi o fim dos murmúrios, mistura de vozes e dos sorrisos dos passageiros dos encantos da minha mocidade. A “maquina das cinco” partiu e me deixou no vazio, sozinho no apenas ouvir o som inesquecível das máquinas de fabricar papel como sendo uma música prenunciando um adeus. E agora, o que fazer nesta nostalgia? Ah, já sei! Vou ler algo no quadro de avisos que está fixado na parede do fundo da estaçãozinha. Puxa-vida, aqui estão duas escalações dos jogos de futebol de domingo do Clube Recreativo Melhoramentos. Estou vendo e lendo o meu nome numa delas. Beque central do segundo quadro do juvenil. Que orgulho, ah, ah, ah, ah, ah. Bem, é hora de voltar para o meu futuro onde e quando, as lembranças são pouco criadas.
Estes “Trilhos da Lembrança” inaugurou o primeiro programa “Antiga Caieiras de Nossa Gente” na agora também inexistente Estação de Rádio 98.7 FM, isso, no dia dez de maio do ano dois mil e dois. Sofreu alterações para poder melhor ser adaptado a este jornal, contudo, foi mantida a “máquina das cinco” como sendo a “essência” do tema em questão daquela ocasião.