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Apanhei Sim e Daí?

Grupo Escolar Alfredo Weiszflog da antiga Caieiras, êta cidadezinha porreta!
Seis anos de idade e o primeiro dia de aula. Era preciso um amiguinho para dividir as tensões porque a timidez e o nervosismo pediam proteção. Escolhi e fui escolhido pelo Zé Polato como companheiro de carteira.
E aquela professora, a dona Maria Inês, falava, falava, repetia, explicava sobre as normas da escola, o que se podia ou não fazer, falar, e sei lá mais o que.
Quando cansou, hora depois num silêncio de tumulo, o Zé Polato começou a gemer de dor e a se contorcer no banco da carteira.
Com as duas mãos no pipi parecendo querer chocar ovos, me implorou: “Arrtino, Arrtiiino, num guento mais! Tenho que mijá! Pede pra muié dexa eu i lá fora mijá”.
Mas como? Que jeito! Eu tinha vergonha, era tímido, gago! Me encorajei, levantei-me e:
- Do- do- dona po- po- fessora! Do- dona Ma- Marineis!
- Menino! Como hoje ensinei, antes de ter se levantado você deveria ter erguido a mão. Por hoje passa, mas pode falar.
- O Zé qué qué mi- mijá!
(Meu Deus, que tremedeira nas pernas)
- Fala para o teu amiguinho que não é hora do recreio. E também não se fala mijá, deve-se falar u-ri-nar. O teu amiguinho pode ir, mas, da próxima vez, ele mesmo deve pedir.
Que alívio, o sufoco terminou, ainda bem! Ao sentar-me olhando para o Zé, falei-lhe: - Zé, vai “urinar” aproveita e dê aquela mijada.
Ai né, com sete anos de idade né, eu estava no segundo ano né e não no sétimo né, e a professora né, era a Dona Elizabethi né.
Um dia né, por eu ter cometido alguns erros né, ela me bateu né. Refiz a lição né, errei outra vez né, outra vez ela me bateu né, arrancou a página do caderno né, esfregou na minha cara né, jorrou sangue do nariz e doeu né.
Novamente né, ela me mandou refazer a lição né, mas, o agrupamento de crianças ao meu redor né, dificultava né.
Nunca me esqueço né, a Aparecida Furquim né, intercedeu em meu favor né: - Saiam de perto dele, ele está muito nervoso, assim não consegue fazer a lição, deixem ele em paz!
Aparecida Furquim, ainda hoje te agradeço: MUITO OBRIGADO!
Meus pais nunca souberam dessas catástrofes, se fosse hoje... ...
Então né, tomei no... na tarraqueta sozinho. Né.
Sempre atrasado né, aos nove anos estava no quarto ano né... ô saco, chega de né, irrita né!
A professora era a Dona Sylvia Brondy. Hoje, pensando bem, até que ela era gostosa.
Preferência mútua, eu e o Zinho (José Olimpio) sempre éramos primos - colegas de carteira.
A professora, escolheu-nos a primeira carteira, bem ao lado da mesa donde ela ficava ao ministrar as aulas.
Pensávamos, eu e o Zinho, que aquele privilegio era por sermos os mais bonitos da classe, entre os meninos e as meninas.
Era não! É que nóis era marvado e nóis só dava risada.
Era uma veiz... A Dona Sylvia, depois de escrever a lição na lousa, estava tecendo explicações sobre ela. Tinha domínio sobre a platéia porque só a voz dela se ouvia.
Foi quando, no meu braço que estava apoiado na carteira, vi uma mosca trepada trepando na outra. “Vou ficar quieto, não vou mostrar e nem falar”.
O Zinho não deveria ver aquilo, porque cairia na risada e poderíamos apanhar outra vez.
Mal tinha terminado de pensar e ele sem se importar por onde estava, apontando as moscas com o dedo, agitado pela surpresa do fato, falou:
-OIA, UIA! OIA AI! OIA AI!
A dois, a gargalhada saiu numa explosão e só se acalmou quando percebemos o nosso “roubar cena” da professora.
Pareceu-me que ela não iria revidar com veemência porque demorou para se aproximar de nós dois.
Antes, “recuperando a cena” outra vez, dirigindo-se à todos os alunos, pôs-se a falar:
- EU DETESTO, EU NÃO SUPORTO que moleques malcriados, sem educação, interrompam o meu trabalho.
E foi se aproximando, aproximando...
Percebendo-a com o “rabo” do olho esquerdo, da primeira carteira, “absorto” estava eu com o olhar fixo na parede, próxima e à minha frente.
ELA DEU-ME UM TAPA TÃO FORTE que tanto ardeu, como muito esquentou o lado esquerdo de minha cara. O zumbido no ouvido, (zzzzuuiiiizzzziii) parece que até hoje ainda escuto.
Ainda sob efeito do impacto, ao meu lado pude ver o Zinho preparando-se para o seu tapa sem sequer pensar em desviar-se dele. Intermitentes, abriam e se fechavam os seus olhos e ao redor deles a carne franzia naquele rosto ruborizado. O mesmo alto estalo do tapa para ele foi o nosso empate de um à um.
Ato seguinte: a professora expulsou-nos para fora da classe, para ficarmos de castigo no “corredor”, isso, até o fim da aula daquele dia.
Lá, no nosso um de cada lado da porta de nossa sala de aula, chorando (que choro falso, forçado) o Zinho cismou de colocar toda a culpa em mim.
Contudo, outra vez começamos a rir, também porque, nós dois sabíamos que Deus gostava que as crianças dessem risadas e a Dona Sylvia ao sabia disso, coitada!
Que época boa! Co Zinho apanhava e co Zinho dava risada.
Zinhôôô! Faltou-se algum detalhe me avise. Desta região, você que foi o melhor artista da antiga Rádio Comunitária, Cultural e Educativa da Cidade de Caieiras, a 96,5 FM. Parabéns, matador de pixoxó.

Altino Olimpio

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