Um pouco de saudade
Antigamente mais as pessoas se viam e se sabia quem era quem. Ainda não existia a televisão e automóvel era um luxo para poucos. Funcionários da Indústria Melhoramentos de Caieiras em suas idas e vindas do trabalho era a atração semanal. O apito da fábrica anunciava o fim ou início do expediente. O primeiro apito era às seis horas, o segundo as sete, o terceiro as onze, o quarto ao meio dia. Pelas quatorze horas soava o apito outra vez, depois as dezessete e o último as vinte e duas horas. As crianças viviam na liberdade em seus folguedos pelas ruas e o que mais gostavam eram os jogos de futebol mesmo com bola de meia. Viam-se as donas de casa no armazém naquela paciência de esperar a vez de quem tinha chegado primeiro. Que paciência, ter que esperar o Caixeiro pesar na balança o feijão, o arroz, a farinha de milho, as bolachas de maisena marca Maria e etc. Como todos se conheciam dava tempo para por as fofocas em ordem. No balcão onde se vendia pinga se via os conhecidos pinguços da época naquele pueril gesto de dar o primeiro gole para o santo. Sim, esparramavam um pouco de pinga no balcão que escorria até o chão. Pessoas no armazém, outras caminhando pelas ruas, outros cuidando de suas hortas, crianças nos campinhos jogando bola e todos ficavam emudecidos quando às vezes se ouvia a sirene da fábrica “chamando” os operários para apagarem um incêndio nas matas. À noite sempre tinha pessoas se distraindo no clube. As mulheres e as crianças mais ficavam em casa e a distração era ouvir rádio. Muitas pessoas os desligavam na Hora ou Voz do Brasil que era transmitido em rede Nacional. As donas de casa gostavam muito de ouvir as novelas radiofônicas. Uma de muito sucesso foi a do Direito de Nascer. Lembro-me, às dezessete horas era à hora do bolero. À noite tínhamos também os programas humorísticos. PRK-30, O Edifício Balança Mas Não Cai. Lembrando uma dupla famosa... Alvarenga e Ranchinho, os milionários do riso que provocavam muitos risos aos ouvintes. Os programas musicais também eram contagiantes... Ouviam-se cantores como Francisco Alves, Nelson Gonçalves, Nora Ney, Ângela Maria e outros dos agora chamados de Cantores da Velha Guarda. É agradável, embora nostálgico, lembrar-se daqueles tempos e daquele povo tão simples de quando todos nutriam entre si a amizade sincera. Tudo na vida tem sua transformação, nada permanece igual e o tempo que não para vai deixando tudo para trás. Entretanto, muitos daqueles tempos que agora ainda vivem, lembram-se com saudade daquele romantismo de outrora e não poucos dizem: Nós éramos felizes e não sabíamos.
Altino Olympio