Eu já morava na Cresciúma, na antiga Rua 4, hoje Rua Guadalajara. Em 1968 já com onze anos comecei a ir com a criançada da rua às festas de Santo Antonio sempre incentivada pela minha madrinha (Dona Cida Santa’Anna). Semanas antes, a preparação tinha início com a montagem das barracas de madeiras,cobertas com lona e iluminadas com lâmpadas incandescentes que ficavam penduradas ou amarradas às colunas que sustentavam a estrutura.Tábuas, fios,pregos, ficavam espalhados ao chão naquele espaço que circundava toda igreja da Praça Santo Antonio. Rapidamente tudo era montado e erguido.No salão paroquial,doces, salgados eram preparados pelas mulheres católicas.Balões eram confeccionados pelos homens da comunidade assim como as bandeirinhas coloridas eram fixadas pelas ruas e locais da festa.Recordo-me do cheiro delicioso que sentia ao passar pela praça naqueles dias do mês de junho.Aos sábados,assistíamos a missa das 19:00 horas.Depois seguíamos para a quermesse que, já na saída da igreja, nos abraçava e nos transportava às maiores alegrias. Em turmas íamos às barracas arriscar a sorte.Tinha a barraca do coelhinho, da pescaria,,das argolas, do alvo.Mas as melhores prendas estavam na barraca da roleta.
Os adultos ficavam com suas crianças de colo,sempre sentadas no peitoril das barracas e ali permaneciam por longas horas. Nós,adolescentes passeávamos pela praça e ao redor da bela fonte luminosa. Naquela época,os grupos de crianças já existiam.Meninos de um lado, meninas do outro.Paquerar era o foco.Enviar recados em bilhetes pelo tradicional correio elegante era estimulante e até provocativo. Mas, o mais emocionante mesmo era o alto falante da igreja que durante toda festa tocava músicas da época.Alguém na torre da igreja trocava os discos,que às vezes falhavam, enroscavam e até chiavam . Outras vezes, mensagens e recados eram anunciados pelo microfone e sempre tinha algum apaixonado com coragem de oferecer uma música a alguém nem sempre tão apaixonado.Lembro que, quando a música parava todos silenciavam para ouvir as dedicatórias e tentar descobri o autor.
Outro momento divertido da festa, era a hora do pau do sebo.Uma roda de pessoas se formava em volta do mastro engordurado que dificilmente era vencido,mesmo com toda gritaria e torcida.Hora boa porém, era aquela em que íamos para dentro do salão onde se vendiam as fichas dos doces e salgados.Era bom demais se deliciar com a pizza brotinho, com os canudinhos, a bomba de creme e com o sonho recheado de marmelada.Tinha também o cuscuz em forminhas de papel,, o quentão sempre servido em minúsculas xícaras brancas que queimavam a língua da gente,a pipoca embalada num cone de papel manteiga e a maçã do amor com a calda de groselha que sempre sujava nossos dentes.
Nos últimos dias da festa, acompanhávamos a procissão que seguia pelas ruas principais da Cresciúma, num desfile metódico ,sério e fiel às tradições.Rezas e ladainhas,ecoavam pelos caminhos e eram respeitosamente assistidos pelas famílias em seus portões ou janelas. Andores lindamente ornamentados pelos moradores, transportavam imagens sacras que ao final eram deixados em exposição na própria igreja, apoiados nos bancos de madeira para que fossem admirados . Santo Antonio, o padroeiro ficava também em seu andor num local de destaque e as mulheres sentiam a obrigação de orar a seus pés, afinal, era o santo casamenteiro.
Participei de muitas destas festas da Igreja Santo Antonio.Para os passeios e para a paquera , ia com minha irmã Joana, amigas de escola e minha prima Magali Sant’Anna que vinha de Perus justamente para me acompanhar.
Mas as festas terminavam,deixando apenas as lembranças de dias divertidos.Restava no entanto, um pãozinho, de Santo Antonio, que era distribuído na igreja a todos os fiéis.Em casa,minha madrinha nos fazia comer um pedacinho daquele pão bento para ter sorte e o que sobrava era carinhosamente guardado na lata de açúcar, para somente ser substituído no ano seguinte,quando o ritual era fervorosamente repetido.
Bons tempos! Boas Festas eram aquelas!Tempos em que moradores de um pequeno e novo bairro chamado Cresciuma se reuniam em belos momentos de confraternização, fé e amizade.Tempos de festas simples, diversão ingênua , eventos calmos que marcaram fortemente a minha vida , me enchem de saudades e me fazem lamentar as mudanças que o mundo moderno trouxe a eventos tão simbólicos como este da Festa de Santo Antonio.
FATIMA CHIATI
Comentários:
Oi Fatinha
Adorei! Como você consegue se lembrar de tudo isso?.Só me lembro de seu colo, suas mãos nas minhas (você tinha medo de me perder no meio de tantas pessoas!)... e de quando você me colocava no peitoril das barracas. Conversávamos bastante, com meninas e uns poucos meninos, mas sobretudo ríamos a valer!.
Obrigada pela lembrança.Beijo Magali
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Comentário, de Mireilli Sant'Anna sobre a cronica Festas de Santo Antonio.
Fati,
Que delícia de história... fiquei com uma vontade muito grande em voltar no tempo e reviver esse momento.Muito embora me lembre pouco exatamente dessas festas, sempre gostei das festas do mês de junho. Adoro até hoje.Obrigada por lembrar de minha irmã... ela ficou toda orgulhosa dessa sua lembrança.Muito obrigada,bj com saudades,Mireilli
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Fátima, Parabéns pela crônica sobre as festas de Santo Antônio, que saudades, nunca tomei um quentão igual em outro lugar, pipoca igual então nem se fala, e não podemos deixar de lembrar da Banda com o saudoso maestro Sérgio Valbusa que animava todas as festas e procissões.Só quem viveu a época pode ter grandes lembranças, e saudades desse charmoso tempo.Francisco (Chico Trem)
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