Valério M. Gabrielli manda essa incrível recordação dos bailes de antigamente em Caieiras
DANÇAR DE ROSTO COLADO...
Rogério Mendellsk
Rosto colado é coisa que os jovens de hoje não conhecem como preliminares de um ato de sedução. Nos bailes de antigamente (uma palavra dolorosa!), os jovens rastreavam o salão em busca da garota ideal para iniciar um romance. Caso ela fosse localizada na mesa com os pais, nossas pernas tremiam. Uma cuba libre talvez fosse o combustível para encorajar o ato de atravessar o salão e chegar na mesa com o convite, formalissimo, “vamos dançar?” O “sim” dela poderia significar que também queria dançar, pois os olhos já tinham se cruzado num momento do baile, mas poderia ser apenas o "sim” formal para não dar um “fora” no rapaz audacioso. Neste último caso a regra que a jovem aprendeu em casa com a mãe casamenteira, era dançar no máximo três músicas para não significar que havia outro interresse a não ser o da boa educação. No entanto, se “pintasse um clima - ai, Jesus! – as danças se prolongariam por todo o baile e, na hora exata, os “ rostos se colavam” e a sedução começava com uma conversa de ouvido. O ato de seduzir transformava-se numa enciclopédia romântica que valia até mentiras ingênuas.
Corta para 2023.
Não há mais rosto colado, não há mais bailes, os conjuntos melódicos são apenas boas lembranças e os clubes estão fechando seus salões que tinham a sua boate para os jovens. O beijo roubado, quando as luzes diminuíam de intensidade, era talvez, o único da noite. Hoje, as garotas ficam apostando quem beija mais garotos numa noite e vulgarizou-se o ato mais sublime de um início de conquista. O baile funk, mais que uma reunião dos jovens de hoje, é um convescote de traficantes em busca de novos babacas para o início de uma vida de vícios. Vale o mesmo para a festa rave e os incidentes estão aí na imprensa para que o colunista não passe por um “velho recalcado”. A sedução transformou-se em agressão sexual, para ambos os lados. Sem crack, sem pó, sem baseado, não há sequer uma aproximação de pessoas de sexo diferente.
Rosto colado nem mesmo quando o DJ aposta em algo lento para descansar os dedos. Não se dança mais, os requebros e os pulos substituíram os passos cadenciados. O barulho do bate-estaca acabou com o diálogo. Sem diálogo não há sedução. Fim de papo.
Está bem, somos velhos, quando falamos em “rosto colado”. Mas ninguém pode roubar de nossa memória um tempo mágico onde o cavalheirismo de uma dança fazia-nos flutuar por salões com pessoas especiais.
E quem não dançou uma vez na vida de rosto colado não sabe o que perdeu.