13/09/2010Brincando de médicoAntigamente, as famílias se visitavam. Era muito divertido, ainda não existia televisão. Os adultos ficavam na cozinha conversando e as crianças ficavam brincando em outro cômodo. Era uma farra, um atirava coisas no outro e de vez em quando vinha à bronca: Parem com isso, não façam bagunça! E a bagunça continuava. Mas também, os adultos só ficavam falando dos outros. A gente escutava: “Você viu aquela sem vergonha? Bem feito! Ela agora está barriguda. Também pudera a mãe lhe dá muita liberdade. Às vezes ela saia e deixava a moça sozinha com o namorado. Tinha mesmo que dar no que deu. O namoro dos dois era um escândalo, se beijavam em qualquer lugar, parecia que tinham fogo no rabo. Mas viu, e o marido ele não proíbe nada? Que? O marido? Então você não sabe? Ele anda com aquela biscate lá do escritório. Cala-te boca, não é que gosto de fazer fofoca, mas, sei de cada coisa. Sabe a fulana? Sempre num dia da semana ela se arruma e vai pra São Paulo. Pra mim ela tem um macho por lá. Ah é? Faz ela muito bem. Tendo marido chato como ela tem até eu faria isso. Não faço porque meu marido é um santo. Olha, por falar em santo, a outra lá meio parenta nossa aquela sim é que é santa, só trabalha e o marido dela é um bodão. Todo mundo sabe menos ela. Ela sim é que devia botar um chifre nele”. Eram mais ou menos assim as visitas e como crianças não podiam participar das conversas, elas ficavam brincando. Brincar de médico era uma delícia. Fingia-se estar com um estetoscópio e colocavam-se os dedos de uma das mãos nas tetinhas das meninas para ouvir seus corações. Bom era quando a prima falava: Doutor, minha dor é aqui na coxa. Ai que bom! Levantava-se o vestidinho dela, e se dizia: Aqui não precisa de remédio. Deite-se na cama para uma massagem. Que massagem saudosa! Às vezes coincidia o apito da fábrica de papel anunciar vinte e duas horas e as “consultas” ainda não tinham terminado. É bom parar por aqui, mas, esse “voltar ao passado”, foi tão bom. Atualmente parece que mais ninguém se visita. Brincar de médico então, nem pensar. Talvez só em outra reencarnação.
Altino Olympio