Com um documento contendo 18 assinaturas de Padres, Monsenhores, diáconos e outros prelados, encaminhado ao jornalista Mario Maurici, de “A SEMANA”, o Presbitério da Diocese de Bragança reagiu às críticas sofridas pelo Bispo Diocesano Dr. Antonio Pedro Misiara, por ocasião da transferência e posterior expulsão do seminarista Pedro Tomás, que trabalhava junto à Comunidade Católica do Bairro do Serpa. O documento reitera o apoio de todo o presbitério à decisão do Bispo na oportunidade, lembrando que ela foi fruto de “maduras reflexões ditadas exclusivamente pelo bem da Igreja, que está acima de circunstâncias passageiras e de interesses menores”.
Na íntegra do documento que transcrevemos, são feitas críticas tanto a comunidade do Serpa (item 4), quanto ao seminarista (mesmo item), invocando a disciplina “duas vezes milenar” da Igreja, e seus apanágios. Contudo, as principais críticas atingem os vereadores da Câmara de Caieiras (item 1 e 6), que são chamados a reconsiderarem suas palavras e atitudes “diante de suas consciências e de Deus”.
Há cerca de um mês a comunidade católica do Serpa, bairro de Caieiras, revoltou-se contra o Padre José César, Pároco daquela cidade, e contra o Bispo Diocesano, pela transferência – que atribuíam a critérios políticos do curado seminarista Pedro Tomas, que vinha desenvolvendo um trabalho apostólico no bairro. Várias manifestações de protestos foram organizadas, incluindo protestos durante missa celebrada pelo Padre José César, e uma reunião na Câmara Municipal, quando os vereadores manifestaram seu apoio à comunidade, e de alguns teceram veementes críticas aos dois prelados. O seminarista, ouvido pelo jornal, atribuiu a crise ao “conservadorismo” do Padre José César, que já foi prefeito de Caieiras, e hoje ocupa a presidência da URCASA
– Urbanizadora Caieiras, empresa estatal do município.
Aqui, a íntegra do documento dos Presbíteros
Diante dos fatos ocorridos recentemente, no bairro do Serpa, na região de Caieiras, o Presbitério da Diocese de Bragança Paulista cumpre o dever de manifestar o que segue:
1) Não podem ser admitidas as ofensas dirigidas ao Exmo. Sr. Bispo Diocesano, D. Antonio Pedro Misiara, registradas no Jornal “A SEMANA”, de 21 a 27 de fevereiro de 1986, nº 250. É agravante o fato de tais ofensas terem saído proferidas no recinto da Câmara Municipal de Caieiras, local que deve primar pela verdade e pelo decoro, pois que é uma Casa de Leis.
2) Da mesma forma, o Presbitério da Diocese não aprova a forma pela qual vem se manifestando parcela da Comunidade do Bairro do Serpa, em virtude das decisões tomadas por S. Excia. o Bispo Diocesano em relação ao Sr. Pedro Tomas. Ressalta o Presbitério que as decisões tomadas pelo Bispo contam com a aprovação e endosso do Conselho de Presbíteros da Diocese.
3) Estas, como todas as decisões tomadas pela Autoridade Diocesana, são frutos de maduras reflexões ditadas, exclusivamente, pelo bem da Igreja, que está acima de circunstâncias passageiras e de interesses menores.
4) Toda a comunidade cristã deve ter conhecimento de que é dever de cada presbítero acatar com espírito fraterno e de disponibilidade as decisões tomadas pela Autoridade Diocesana. E que o mesmo dever incumbe aos que aspiram pertencer, um dia, ao Presbitério da Diocese. Esta disciplina duas vezes milenar está entre os apanágios da Igreja, e é fator de segurança e tranqüilidade para o povo cristão.
5) Este Presbitério faz questão de deixar claro a todos que agradecer a Deus o privilégio de ter a frente da Diocese de Bragança Paulista o atual Bispo, D. Antonio Pedro Misiara, cujo trabalho pastoral é sempre inspirado pela fidelidade à Igreja e pelo amor ao seu rebanho.
6) É para se desejar que todos aqueles que faltaram ao respeito com S. Excia. D. Antonio Pedro Misiara, Bispo de nossa Diocese, reconsiderem suas palavras e suas atitudes, diante de suas consciências e diante de Deus.
7) Este documento é assinado por todos os sacerdotes presentes à Reunião do Presbitério realizada em Bragança Paulista, no dia 12 de março de 1986.
(Seguem 38 assinaturas de membros do Presbitério)