Sábado e domingo ocorreram as eliminatórias do I FEMUCA (Festival de Música Popular de Caieiras) e o que se mostrou foi uma razoável para boa qualidade de música, intérpretes, instrumentistas, apresentadores, organização, patrocínio, público e, principalmente, as músicas, mostraram um bom nível. Só deixou a desejar a aparelhagem de som e a acústica do salão, que não permitiu entender-se pouco ou quase nada das letras das músicas e fazendo som de instrumentos como flautas não se fazerem audíveis, o que prejudicou um pouco o brilho do espetáculo e a obtenção de melhores notas para os grupos.
Mas, o importante mesmo é a emoção: gente nova, nossos amigos, pessoas que vemos todos os dias, mostrando o que sabem fazer de maravilhosos, virando mágicos e nos levando ao mundo dos sonhos.
Com ótima freqüência, o festival, que terá a sua semifinal sexta-feira, dia 5 e final no dia 6, foi rico em torcidas organizadas, que, num gesto de extrema beleza, respeito e maturidade, aplaudiram não só às suas músicas, como às dos outros grupos (até os músicos ajudavam-se uns aos outros, distribuindo folhetos com as músicas dos concorrentes) o que mostra que o importante é participar e que estamos preparados, sim, para eventos do gênero, e que só nos tornamos desagradáveis quando nos tentam fazer engolir coisas ruins (o que não ocorre desta vez).
Todos estão de parabéns, quem compôs, quem apresentou, quem aplaudiu, quem distribuiu brindes. Enfim, todos aqueles que contribuem para que saiamos do Estádio Municipal de Caieiras com um sorriso no rosto, soltos e descontraídos.
O Graffitti, como jornalista, é imparcial, mas o meu amigo Jean, que faz exercício de flexibilidade de punho para ter a elasticidade necessária a quem toca caixa, ouviu todas as músicas e uma delas tocou seu coração com sua mensagem e seu ritmo. Ele me pediu que divulgasse a letra para que todo mundo cantasse com ela. É a música de Joeldir Manoel Silva, interpretada por Ranulfo e o Grupo Alpha-Centauro: Revirado.
“Não quero viração de gato no fogão/vovó já me falou que tem assombração que vem na chaminé, que desce aqui “trelê”/que gato no fogão é saci-pererê.
A lua tremeu, deu um pulo, desapareceu/Num pio de Coruja fez um frio e tudo aconteceu.
O mato se abriu num repente como nunca e, eu vi/a brasa do cachimbo lumiava tudo ali.
O vento zuniu-assovio-tudo estremeceu/O rio que corria rio abaixo deu pra riba e deu a louca nos currais (desatrela, toca os animais)/sapeca um nó no rabo, dói, desata nunca mais.
Lê, re, lê, re, lê, re...
Que tem gorro vermelho e, uma perna só/mas corre mais que o vento que chia no cipó (bis).
Levaram a Chaminé, calaram a voz do vento/jogaram o Capilé, mataram o cata-vento.
Fizeram fogo até pra ter fogo de gás/fugindo desse tempo, Saci não voltou mais.
Toma Capilé, pula e vira no Maculelê/gira Cata-vento, engole o tempo, tapa a chaminé.
Saci-pererê, do meu peito a fé se arribou/vem, desvira tudo que esse mundo revirou (bis).
Lê, re, lê, re, lê, re...
Não quero viração...
Taí a música que você pediu, Jean. Abração procêis.GRAFFITTI"
Festival de Música em Caieiras.
Se tinha propósitos políticos...
E finalmente saiu o tão falado festival de música em Caieiras, o I FEMUCA, que, antes mesmo de iniciar já guardava os ressentimentos dos autores das músicas “pré-censuradas”, que foram impedidos de participar. E, como todo festival, continha os ingredientes de praxe: apresentadores chatíssimos, que além de distribuírem discos e calças, e falarem dos patrocinadores, tentaram por algumas vezes, enaltecer figuras políticas locais, no que foram devidamente repudiados pelas vaias do público, que não poupou nem o prefeito, quando falava da “necessidade de apoiar a música popular”.
Fora isso, o som foi bastante democrático: prejudicou a todos, tornando quase totalidade das apresentações simplesmente inaudíveis. Tanto, que a maioria do público só se mantinha dentro do salão quando da apresentação das músicas preferidas, já que o verdadeiro “sambão” que se fez no bar (sábado) e perto da quadra (domingo) estava muito melhor, pois se podia cantar e ouvir o que se tocava e cantava.
O júri trouxe algumas novidades, pois se trata de júri rotativo, já que no sábado um dos jurados teve que ir embora mais cedo e colocaram um outro no lugar, no domingo, uma das juradas não pode ir...
Não se pode, entretanto, deixar de ressaltar a importância que assume eventos deste tipo em uma região como a nossa, tão carente de espaços para colocar o que se anda produzindo musicalmente, e inclusive, se detectar novos valores, quais as tendências atuais, assim como o intercâmbio de todos os trabalhos. E pode-se tirar, desde já, uma importante conclusão: existe um grande público interessado, que, embora com certas preferências, mostra-se receptivos a todas as tendências, e disposto a dançar e aplaudir, ou escutar, se for o caso.
Os rockeiros se fizeram presentes, com destaque para o grupo matéria, com a música “Homem Louco”, o samba, com “Poeta e Vagabundo”, além dos já consagrados Ranulfo e seu grupo, Alpha Centauro, Edson Franco e companhia, com “Balanceio”, e o grupo Pé de Batalha, com “Batalha de Reis”, até a música caipira se fez presente, com uma insólita dupla, que ao se despedir afirmou “que também estavam participando”. Mas, de qualquer maneira, quem inegavelmente mexeu com o público foi o energético grupo “Verbo Novo”, que, com a música “Mágoas do Rio Juquery”, composta por Rubinho e Marcão, inundou o salão com um som balançado e muita animação no palco. E, como não podia deixar de ser, ao término da classificatória de domingo, ouvia-se de todos os lados os resmungos pela desclassificação da música “Anjo”, considerando-a uma grande injustiça. Amanha teremos a finalíssima, e um saldo positivo para a música da região.