CAIEIRAS - Os concursos públicos realizados em Caieiras são dirigidos. Antes de cada prova os amigos e parentes do prefeito da cidade, Milton Ferreira Neves (PMDB) tem acesso a ela. As afirmações são de Gilberto Divino Teixeira, casado com a médica Mirian Ferreira Neves, diretora de Saúde de Caieiras e uma das filhas do próprio prefeito.
Teixeira revelou ainda que, caso mais de uma pessoa, além da escolhida pelo prefeito, consiga passar pelas provas, ela é eliminada na entrevista, "feita sempre por um amigo íntimo de Neves ou por um funcionário de sua confiança".
Segundo Teixeira, ele mesmo já foi convidado a participar desses concursos, mas nunca aceitou. "Atualmente na prefeitura de Caieiras tudo é dirigido, só não vê quem não quer", disse.
As afirmações de Gilberto confirmam as denúncias de irregularidades nos concursos públicos de Caieiras feitas pela Agência Estado e que se transformaram em processo judicial movido por Rui Florêncio da Silva, morador da cidade.
Em 27 de junho de 1990, Neves baixou a portaria para realização de um concurso em Caieiras. As provas escritas foram marcadas para os dias 4, 5 e 6 de julho. Uma prova oral foi realizada no dia 8 de setembro. O entrevistador era o advogado Pedro Luis Pereira da Silva. No dia 19 de setembro, a prefeitura divulgou o resultado oficial. Dos 18 cargos disponíveis, 9 foram preenchidos por parentes e amigos do prefeito, entre eles os filhos do prefeito, Hamilton e Izaura, além de seu genro Edílson Pereira, exatamente com previa o anúncio. Além disso, o concurso foi realizado durante a campanha eleitoral para governador do Estado, o que era proibido por lei na época.
Mal-estar
"Não se pode dar crédito às palavras de meu genro, que é um desqualificado", disse nervoso, na sexta-feira, o prefeito Neves, para quem o fato de a Agência Estado ter adiantado o resultado do concurso com 2 meses e 15 dias de antecedência é normal. "Qualquer um pode fazer isso, basta pegar as pessoas mais qualificadas que prestarão o concurso e publicar o nome delas no jornal", afirmou.
No meio da entrevista, o advogado do prefeito, Carlos Augusto de Castro, solicitou o seu encerramento, afirmando que o prefeito passava mal: "Vamos continuar esta entrevista em outro dia, porque o prefeito não está bem".
Ameaças
Quando o correspondente da AE em Franco da Rocha e região, Sandro Barboza, saiu do gabinete do prefeito, foi abordado pelo presidente da Comissão Municipal de Concursos, Vicente Menezes, e por mais dois funcionários da prefeitura, que passaram a ameaçá-lo. "Na minha terra quem se mete a besta amanhece morto, por isso pare de se meter com o prefeito e comigo, porque senão eu lhe dou um tiro na cara", ameaçou Menezes, que disse estar ali por ordem do prefeito.
Barboza foi mantido no corredor da prefeitura mais de uma hora. "Não adianta nada fazer estas reportagens que você vem fazendo, porque o juiz do caso sabe muito bem que, se fizer besteira, nós acabamos com ele também", afirmou. "Eu não quero ver nem mais uma linha sobre mim ou do prefeito nos jornais, senão você e seu editor morrem".
Assim que conseguiu sair da prefeitura, Barboza se dirigiu à delegacia de Polícia, onde registrou queixa por ameaça.