Depois da morte de Cassiano, o que escrever sobre aquele que foi, sobretudo um homem de bem? Cassiano Gonçalves Passos, político da velha guarda, emancipador de Francisco Morato, seu prefeito, etc... Tudo muito certinho e formal para falar de uma personalidade forte, polêmica. Mas coerente até o fim. Soube de sua morte quando supus, até o enterro já tinha sido feito, e uma ponta de remorso bateu. Afinal por uma dessas ironias do destino não consegui vê-lo pela última vez. Numa das muitas conversas que tivemos, longas, e muito ouvindo e pouco falando, Cassiano passava e repassava sua vida, desde os atendimentos que fazia, a cavalo, em cidadezinha do interior do Estado, à prefeitura de Francisco Morato. Inevitavelmente vários personagens entravam, seu amigo Robertão (o deputado Roberto C. Alves) que por ter convidado para seu aniversário alguns políticos de quem Cassiano não gostava, não contou com sua presença e ainda ouviu um monte de críticas do amigo. Isolado e até certo ponto abandonado por velhos correligionários políticos que só o procuravam em época de eleições, curtia uma certa mágoa, mas conformava-se "Continuo sozinho de necessário, aí corrigia - junto com Dilza" (sua esposa). Alguns o chamavam de louco, muitos de santo, entre uma coisa e outra era as duas. Tinha verdadeira loucura para ajudar o próximo, muitas vezes não o entendiam, com da vez que invadiu o gabinete do governador Franco Montoro, de botas, barro até o pescoço e punho em riste - Francisco Morato estava sob águas e desmoronamentos e o governo estadual ausente. Outras histórias que o magoavam era ter enriquecido como político, não era verdade, de bens que tinha a casa que morava e alguns imóveis comprados ainda como farmacêutico. Vivia de pequenos aluguéis e muitas dificuldades financeiras. Ajudou com emprego e isso nunca negava, alguns amigos políticos, entre os quais o ex-prefeito Gino Dártora, que após deixar o cargo foi contratado pela prefeitura de Francisco Morato. Também filhos do atual prefeito - Dr. Milton, foram contratados por Cassiano. Uma vez no início da administração do Dr. Milton, apareceu na prefeitura de Caieiras e foi por mim atendido, queria trabalhar, como peão, nas ruas junto com a engenharia - "Não quero ganhar nada, só trabalhar" disse. Esse foi o Cassiano que conheci e com uma qualidade rara nos homens, capaz de falar a verdade até nos piores momentos e saber que o maior prejudicado seria ele mesmo. Aos que detestavam Cassiano G. Passos por algum motivo ou outro, minhas escusas, eu tinha um grande carinho pela figura humana que ele foi, o doce de laranja dietético que ele carinhosamente fazia, e adoçava minha boca, hoje tem sabor amargo. Cassiano partiu sem volta. Disse o Cristo "Na casa de meu pai há muitas moradas" certamente Cassiano está numa delas.
EDSON NAVARRO