02/10/2015
A internet não esquece

“A internet não esquece”. Esta foi a frase dita no programa de ontem da Jovem Pan após noticia sobre escândalo envolvendo o ator Stenio Garcia e sua mulher.

Pensei no assunto e em como estamos ignorando esta afirmação tão séria.

Segundo o historiador Leandro Karnal existe um comportamento social preocupante, acentuado pelo vício, principalmente, nas redes sociais e que nos torna imensamente solitários, antissociais e pouco reflexivos. Vivemos no isolamento, “adicionando” amigos que nunca encontramos, curtindo o cotidiano de pessoas disfarçadamente felizes , ou estranhamente obsessivas por animais, dedões do pé, e política. Elogiamos caras e bocas de fotos manipuladas por photoshop. Curtimos viagens fenomenais. Curtimos a vida alheia num êxtase indescritível. Curtimos as repetitivas e alienatórias frases de autoajuda. Curtimos piadas, obscenidades e até a revolta de fanáticos politico-religiosos. Enfim... Curtimos, curtimos e compartilhamos. Até que, em determinado momento, um desastre como este, do ator global, acontece.

Estranho, no entanto, a indignação das pessoas ao descobrir que sua intimidade circula pelos meios de comunicação. Tudo “vaza na internet”. Ah! Mas isto é invasão de privacidade e crime virtual. E daí? Ato criminoso ou não a vítima também tem a sua parcela de culpa.

Quando nos conectamos, seja pelo computador ou pelo celular, sabemos do perigo . Tomar cuidado com o vocabulário e comentários faz parte da boa convivência virtual. Resguardar-se fugindo do exibicionismo e agir com equilíbrio são requisitos básicos. Mesmo assim não estamos totalmente imunes de ataques maledicentes.

Portanto, que me desculpem as vítimas do crime cibernético. Se, a pretensão às vezes é apimentar o relacionamento, que se usem os temperos mais naturais, menos indigestos e numa quantidade suficiente às quatro paredes do quarto. Sou avessa aos falsos moralismos e preconceitos, mas em determinadas situações, prefiro preservar um pouco da minha educação burguesa , onde amor e sexo eram tratados como experiências particulares, únicas de seres apaixonados e cheios de afinidades. Com estes conceitos, trazidos da minha humilde infância ,não consigo absorver alguns fetiches e aberrações que fazem com que as pessoas percam o controle e caiam no ridículo.

Quem sai à chuva, acaba se molhando. E como já foi dito, a internet não esquece. Lamentavelmente ela nos marca pelo que publicamos e curtimos. Cuidar do linguajar, refletir sobre posicionamentos e controlar-se na divulgação de nossas fraquezas, carências e frustrações é, no mínimo, o mais sensato. A internet não esquece declarações vulgares, radicalismo, fanatismo e falta de respeito , manifestados em pequenas reticências. A internet não esquece palavrões, fotos exibicionistas, imagens deprimentes ou tragicômicas presas entre os parêntesis de nossa insatisfação. A internet não esquece a infelicidade, a amargura e a mentira que encerra com um ponto final, todas as nossas declarações. A internet, na verdade, permanece cheia de vírgulas. E como num parágrafo interminável, vai longe, propagando nossa psique, nossas neuroses e nossos doces pecados. A internet, esta ferramenta fabulosa é importante, desde que tracemos os limites necessários.

São pequenos cuidados, e só eles excluirão, no final da linha, aquele enorme ponto de exclamação sobre nossa imagem totalmente desacreditada e desvalorizada.

Vamos então refletir e lembrar: A INTERNET NÃO ESQUECE.


Fatima Chiati

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