Finalmente a justiça brasileira decidiu o caso dramático das crianças baianas adotadas por famílias de Campinas e Indaiatuba. Em sã consciência nenhum Juiz decidiria tirar a guarda da mãe sobre os filhos, se realmente não houvesse comprovação da incapacidade da mesma em assumir a educação deles. Na maioria dos países a lei protege e fiscaliza intensamente o comportamento dos pais antes de decidir pela guarda. Questões monetárias sempre contam afinal, não se cria filho com a brisa das manhãs. Mas, não se analisa unicamente o aspecto material e financeiro como muitos imaginam. Analisa-se o comportamento psicoemocional e moral do guardião da criança. E isto pesa, até muito mais, na balança decisória da justiça já que estes quesitos é que determinarão também sua saúde física e psicológica do tutorado.
Creio que não devam existir leis ou artigos penais capazes de proibir a convivência entre mães e filhos, mas daí a decretar que eles fiquem sob sua guarda exclusiva é outra coisa. Mãe é mãe, mas filho, sabemos todos, requer muito mais que uma presença unicamente sonora e santificada que a palavra “mater” consegue ressoar. Filho requer amor 24 horas, dedicação, presença, renúncias, concessões e principalmente exemplos. Somos retrato do que presenciamos desde que nascemos e nos espelhamos no que assistimos ao longo de toda nossa trajetória familiar. É justamente neste trajeto que entra o aspecto moral. Moral que não significa, em nenhum momento, o falso moralismo arcaico e ultrapassado.. Falo da moral que abrange um conjunto de atitudes, ideologias, crenças, comportamentos e principalmente emoções equilibradas. Falo da moral alicerçada em princípios éticos e que precisam estar em perfeita harmonia para proporcionar o encaixe exato na vida de quem decide ser mãe e na vida de quem deseja, ardorosamente, cuidar de sua cria. Acho que neste caso citado a justiça primeiramente se ancorou num conceito universal e preestabelecido de que a mãe tem sempre todos os direitos sobre filho. Às vezes não pode e nem deve ter.
Felizmente, como todo peixe morre pela própria boca, a mãe destas crianças acabou por se trair e se auto condenar. Cedeu, finalmente, e os devolveu aos pais adotivos. Assumiu sua incapacidade de dar-lhes uma vida normal, digna e tranquila.
Entristeceu-me a atitude da problemática mulher, afinal será que existe uma mãe disposta a entregar seus filhos a quem quer que seja? Quem não assistiu, assista ao filme “Nunca, sem minha filha” com Sally Field. O modelo de mãe com “M” maiúsculo não podia ser melhor. Na vida real, contudo, o oposto também acontece. Melhor é que os filhos sejam doados. Sabem por quê? Porque mãe que é mãe luta, trabalha se desdobra, enfrenta leões. Não deixa os filhos... Com ninguém. Mãe de verdade, não apenas por acaso ou por descuido, quer os filhos perto, quer educá-los, quer acompanhar seus passos, sua vida, sua evolução. Mãe abdica de seus sonhos, suas vontades e suas fantasias. Mãe renuncia aos seus prazeres, aos seus amores, às suas paixões, mas não desiste, enfrenta feras, deuses e demônios para ficar com a prole. Não enxergo outra imagem de mulher proclamando o seu amor maternal.
Estas crianças do noticiário, certamente, serão mais bem cuidadas pelos pais adotivos. Sequelas existirão e elas deverão ser abrandadas, com a ajuda de terapias, espiritualidade e muito, muito amor. Terão que receber pacíficas orientações para finalmente entenderem com lucidez a tragédia de suas vidas: A rejeição e a negação do afeto maior .
Se mãe é aquela que cuida. Certamente serão abençoados por uma, bem amorosa e com mais sanidade emocional. Poderão sentir-se amados e compensados em suas perdas, pois Mãe será sempre a quem cria. Isto é fato.