28/10/2015
O dia de finados

O dia de finados sempre foi muito melancólico e triste. Principalmente em casa onde a morte de alguns parentes aconteceu justamente nesta data. Lá a tristeza parecia ser sempre maior. Por anos presenciei o ritual tradicional e fúnebre que me deprimia muito, principalmente naquela minha fase infantojuvenil. Velório em casa, idas ao cemitério semanas antes, limpeza de túmulos, flores, velas, missas, lágrimas e muitas, muitas lamentações. Meu Deus! Era demais pra mim! Aos poucos, já adulta fui abandonando o hábito. Passei a evitar estes cortejos e me distanciava ao máximo dos cemitérios. Hoje aos 58 anos, certamente, porque a maturidade tenha me ensinado mais sobre a vida, acabei também, por compreender a morte, as perdas e as ausências.

O dia de finados passou a ser melhor digerido por mim e assim, logicamente, se tornou menos trágico. Continuo desprezando o apelo comercial e o marketing sobre o sofrimento         que ele provoca. Mas, passei a valorizar a manifestação sincera da saudade e a reverência aos seres queridos que partiram. Hoje, respeito a necessidade que a maioria das pessoas tem, em visitar sepulturas. Entendo a    angústia de seus corações. Entendo mais que nunca a dor da perda e a penumbra que paira no ar, neste dia tão carregado de sofrimento e energias extremamente tristes. Afinal, também perdi muita gente querida.

O dia de finados tem agora para mim, uma função específica. Ele nos permite chorar, sem constrangimentos, o vazio provocado pela morte de   nossos afetos, nossos amigos, nossos parentes e de todos que um dia estiveram ao nosso lado. Ele nos aproxima, num encontro coletivo, das pessoas unidas pela mesma dor. Ele nos libera para expressar nosso apreço, nossa estima e nossa solidão em estar distante de quem tanto nos foi importante. É uma ocasião que sem restrições, podemos levar   flores, velas e os adornos que quisermos na esperança doce de que eles, os nossos mortos, possam receber esta nossa manifestação de carinho eterno. E acredito, fervorosamente, que a recebam.... Em vibrações.

Mesmo indo raramente ao cemitério, admito que   o dia 02 de novembro continue sendo como sempre foi na minha infância.... Acinzentado e triste. Muito triste.

E embora eu chore eternamente as ausências e a saudade, para não sofrer em demasia, tento enfrentar o momento com uma nova visão. E então.... Já não proclamo o desespero de antes. E nem a amargura do passado. Parece funcionar, pois a dor torna-se mais suportável.

Neste ano, como nos próximos, farei minha homenagem póstuma com pensamentos mais brandos. Lembrarei com alegria dos meus entes queridos.  Lembrarei com carinho das nossas boas conversas, dos nossos bons momentos, da nossa troca de experiências, das superações vivenciadas e do apoio que nos demos, mutuamente, em todas as situações. As reminiscências serão, principalmente, dos risos, das alegrias, das passagens descontraídas e das gargalhadas que liberaram todas as nossas endorfinas, tornando nossa convivência rica e satisfatória. Lembrarei finalmente dos dias maravilhosos e do imenso carinho que, por tanto tempo, nos manteve próximos e unidos.

Fecharei meus olhos por alguns minutos. Imaginarei um a um, todos os que se foram e que me deixaram órfã de suas presenças. Agradecerei a Deus a dádiva de tê-los tido   ao meu lado pelo tempo necessário ao nosso crescimento espiritual. Enviarei minha prece de amor, saudades e gratidão. Enviarei, finalmente, a todos eles, um pensamento e um recado bem curto num desejo cheio de emoção:

“Um dia, certamente, iremos nos encontrar novamente. E a felicidade será eterna! Estejam em paz!”


Fatima Chiati

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