Recordar brincadeiras e brinquedos da infância me dá uma grande alegria. Contarei mais uma que hoje, me veio à mente.
Um dos meus maiores passatempos, quando tinha cinco ou seis anos, era brincar com a lata de botões da minha Madrinha. Como costureira, ela guardava e tinha muitos. A lata era preta, e cabia perfeitamente numa das gavetas da máquina de costura. A tampa, também preta e brilhante realçava as letras brancas com a marca “ ELGIN”. Nesta lata ficavam os melhores botões, os mais novos e os mais bonitos. O restante, simples, comuns e sem pares ficavam numa outra gaveta, soltos e misturados com demais acessórios. Eu adorava esta coleção e especialmente a latinha preta. Muitas tardes passei sentada no chão de tijolo vermelho da nossa casa da Vila Leão, brincando com estes objetos de costura. E enquanto minha Madrinha costurava, ouvindo suas novelas pelo rádio, eu permanecia ali por horas ininterruptas com a lata de botões. Eram muitos botões! De todas as cores, tamanhos e formatos e um mais lindo que o outro. Eu esparramava aquelas preciosidades sobre o tapete, às vezes sobre a cama daquele quarto e me deliciava em construções mirabolantes usando aquelas peças extremamente artesanais. Construía caminhos, montanhas, flores, coração e tudo que minha imaginação permitisse. Arrumava-os e os ordenava por tamanho, cor e desenhos. Eram magníficos! Alguns possuíam entalhes, desenhos e frisos. Outros, pareciam verdadeiras joias raras, tamanha era a riqueza de detalhes. Às vezes ela me advertia para não perdê-los e nem quebrá-los, o que nunca aconteceu, afinal eu era extremamente cuidadosa.
Brincar com esta lata de botões, no entanto, teve para mim um significado muito maior, mais profundo e que só hoje eu tenha descoberto. Aquilo significava estar junto, estar no aconchego do lar, na companhia de alguém especial e de grande afetividade. Era estar e se sentir conectada com uma pessoa presente, participativa e ligada em mim como ela sempre esteve. Mesmo costurando e realizando suas árduas tarefas domésticas. Nos dias de chuva e frio aquela minha brincadeira com a lata de botões era até melhor e a sensação de proteção e interação era ainda mais intensa. E por muito tempo minha maior distração foi ficar ali, sentada no chão, ao pé da máquina de costura e envolta num lindo cordão de amor e botões. Por anos vasculhei aquelas gavetinhas cheia de ganchos, colchetes e linhas, sempre a procura de uma nova relíquia que pudesse fazer parte da linda coleção, na lata preta. . Por anos idolatrei a charmosa lata como se nela houvesse doces, balas e até algo surreal . Enquanto fiz isso usufruí de um carinho indescritível e me deleitei na sensação mais maravilhosa de carinho que só mesmo as mães são capazes de transmitir, mesmo com os com os mais simples gestos.
Os anos passaram, outras brincadeiras surgiram e eu fui deixando de lado a encantada lata preta e seus botões mágicos.
Já adulta, distante destas distrações, constantemente e durante a arrumação da casa, me flagrei admirando a antiga lata, que permaneceu na mesma gaveta da máquina de costura enquanto a saúde e a lucidez estiveram presentes na vida da minha inesquecível e dedicada costureira.
Hoje, vendo os pequenos teclando insaciavelmente seus tablets, iphones, me pergunto: O que fariam se ganhassem uma lata de botões? Certamente iriam rir e ignorar. Tempos modernos! Uma nova era onde as brincadeiras cederam espaço a outras de emoções também modernas. Pena que não tão gratificantes como as vividas por mim... Lá na década de 60. Tenho certeza!
Fatima Chiati
Comentários:
Pois é Fátima ainda bem que nenhum moleque da época descobriu a caixa, provavelmente eles virariam jogadores de futebol (jogo de botão). Uma vez tirei todos os botões do único terno do meu Pai para engrossar meu time, claro, tomei uma coça de vara de marmelo da minha Mãe, que também tinha uma poderosa "Singer" com móvel e gavetas cheias de apetrechos de costura e apetitosos botões para o meu time. Você e suas matérias que fazem os olhos vazar. Edson Navarro.
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Pois é , velho rabugento :
Gostei da crônica da Faty Chiati sobre os botões . Quis inserir um comentário mas , analfabyte como sou , não consegui . Lembrei-me que , como vc , eu tinha tb um timaço de Botões e enfrentava de igual para igual , a hoje velha Ratazana das Praias , o Ico Gabrielli ( São José ) , o Pedro Baboim ( Pé Murcho ) e tantos outros .
Meu Estádio Alçapão ficava na varanda de nossa casa na Rua do Filtro , na Fabrica e lá saiam jogos e gols maravilhosos . Um dia , meu austero avô materno , Alcindo Durval Homem de Mello , veio nos visitar ; Era Jun / Jul , inverno e ele apareceu com um vistoso casacão marrom com uns botões cabeçudos que na hora , identifiquei como meu centroavante ( ou centrobola , como falava o Sr Angelim , pai do Renato Marquesini ) ideal .
Monitorei o sério velhão , planejei e esperei a minha chance pacientemente . O velho ainda comentou com minha velha mãe – O Fred não larga de mim , deve estar com saudades né meu neto ????? Mal sabia ele de minhas intensões
furtivas kkkkkk .
Na hora do almoço , deu-se a chance !! Meu avô tirou o casaco e vestiu-o na
cadeira da sala e foi ao WC , lavar-se . Tremendo , ansioso e rápido tal
qual um azougue , fui até o casaco e zás , com uma gilete , separei o ultimo
botão inferior do casaco ...que preciosidade !!!!
Fechei-me no meu quarto e deliciei-me com o novo centro avante ; Era perfeito , tamanho , formato , lisura ..jogava com facilidade impressionante . Batizei-o de Itajubá e ele me fez gols e gols até findar a era mágica da adolescencia . Meu avô procura até hoje , post morten , como foi e onde ele perdeu aquele botão do casaco .
Fátima live !!!!
Fred Assoni
Obs. Acho que o velho rabugento foi para mim.(edson navarro)