Parece que as coisas vão complicar entre patrões e empregados domésticos. Com as novas leis e direitos regulamentados, alguém vai ter que ceder. Resta saber quem...
Enquanto isto não se define, discussões polêmicas, dúvidas e reflexões farão com que todos os envolvidos repensem posicionamentos e atitudes.
A herança escravocrata que, de forma sutil, ainda comandava nossas atos essencialmente preconceituosos em relação aos empregados domésticos deve estar com os dias contados. Sim, porque trabalhar em casa de família sempre teve um tom pejorativo. O simples fato de não se registrar os profissionais em carteira de trabalho, já provava isto. No que dizia respeito aos demais direitos, não reconhecidos e não pagos, nem é bom comentar, tamanha era a insensatez. Por muito tempo se ignorou os direitos trabalhistas e até se aproveitou da cruel situação de uma classe trabalhadora imensamente marginalizada. Mas tudo agora irá mudar. E quem quiser manter um profissional do lar (assim que eles deveriam ser chamados) vai ter que arcar com o custo disto, concorde ou não.
Não estou querendo tomar partidos. Mas entendo que, sempre houve omissão em não se ampará-los dignamente.. Eles foram sim, imensamente injustiçados! E merecem finalmente o reconhecimento da lei! É preciso reconhecer a complexidade de se cuidar de uma casa, de uma criança, de um idoso. Por injustiça ou comodismo estas tarefas nunca foram valorizadas como outras, agraciadas por títulos escolares e técnicos. Permaneceram sempre à deriva, no esquecimento e até na exploração.
Por outro lado, é importante também compreender que, lamentavelmente, vivemos num país de péssima governança, muita má vontade política e assolado em corrupção. Vivemos no país que pior remunera seus trabalhadores urbanos, os mesmos que necessitam contratar os profissionais domésticos. E neste entrave da cadeia produtiva, a consequência : Ganha-se pouco, paga-se pouco também.
Para agravar existe ainda o alto custo de vida do brasileiro, outro grande problema para a maioria das famílias de classe média. Poucas são as mulheres que se dão ao luxo de ficar em casa. A grande maioria é forçada a enfrentar o mercado de trabalho e a contra gosto se vê obrigada a terceirizar sua função de mãe e dona de casa.
Neste cenário de contradições e necessidades é que acontece o duelo de titãs. Entram em campo, as opiniões, os direitos e é claro, as dificuldades em se cumprir o que é decretado. Penso que o resultado poderá não ser totalmente ideal. Os empregados, que nunca tiveram seus direitos resguardados, o exigirão agora. E com toda razão. Os empregadores que nunca puderam ou quiseram reconhecer direitos a serem pagos, terão que se submeter a mais este ônus, caso decidam por um empregado doméstico. Em médio prazo, acredito numa acomodação e numa conciliação entre ambos e alguns acordos legais e pacíficos também poderão ser viabilizados para que todos se beneficiem. Vai prevalecer o bom senso, dentro do que reza a lei, é óbvio já que os próprios decretos deverão ser ajustados, analisando-se cada caso e cada situação específica.
Uma coisa, porém é certa: Ocorrerão mudanças de comportamento na estrutura familiar como já aconteceu em outros países, onde a mão de obra doméstica é rara e escassa. As pessoas terão que se reformular, dividir tarefas ,responsabilidades, arregaçar as mangas e fazer a casa se aprumar. Pode não ser algo tão agradável, mas talvez seja a única saída para as famílias contemporâneas.
FATIMA CHIATI. www.fatimachiati.com.br